Infelizmente (infelizmente mesmo) sou muito contestador. Queria ser consumista, materialista, alienado. Acho que este tipo de “Ser” é mais feliz. Sempre partilhei isto com um amigo que eu tinha: o Rafael, que dividiu república comigo. Agente adorava ficar filosofando. Sobre tudo. Às vezes concluíamos: - é melhor ser burro, “véi” . Se sofre menos !
Me irrito como o mundo (ou o Sistema, para os que são mais radicais) quer doutrinar a todos. Evitar que pensem. Não se pode questionar nada mais. Quando se questiona algo a alguém, geralmente se escuta “só estou cumprindo ordens”. Então é isto ? Fomos feitos para cumprir ordens ? Este é o sentido da existência ? Por que temos que aceitar a resposta “é assim e pronto” para tudo ? Claro, isto não quer dizer que se deva comportar como um rebelde sem causa, mas refletir sobre tudo. Ponderar.
Meu chefe (que é meu pai) é ótimo para dar ordens (como todo chefe deve ser mesmo). Afinal, se os chefes fossem sensatos, deixariam de ser chefes e começariam a se chicotear, se penitenciando. Engraçado os chefes dizerem dos seus comandados: - “parece que não pensam”, quando estes erram. Isto porque quando fazemos uma sugestão, dizem: -“você é pago para fazer e não para pensar”. Não é um contra-senso ? Me treinam para que eu não pense... e quando cometo um deslize ... “parece que não pensam”.
E o por que deste rodeio todo ? Porque muitas vezes temos idéias boas, que trariam economia de tempo, por exemplo. Mas ao externá-la você escuta algo como “fazemos assim há trinta anos” e não vamos mudar. Ora bolas, se reconhece que sua idéia é boa, que trará economia, mas “fazemos assim há...”. Pelo amor de Deus !!! Dá vontade de dar cabeçada na parede !!!
Querem um exemplo ? Em nosso escritório, utilizamos papel contínuo nas impressoras à laser. E o que tem demais ? Explico: o papel contínuo, como se sabe, tem uma “borda” serrilhada, que serve para encaixar nas impressoras matriciais ( que já são obsoletas). Para que se possa usar tal papel em uma impressora laser deve-se destacar as bordas do papel contínuo e separá-lo em folhas. Esta tarefa consome horas de um funcionário (afinal, consumimos centenas de folhas ao dia). Pois bem: fiz uma pesquisa, e descobri que o papel A4 (ou popularmente conhecido “chamex”) sai mais em conta que o outro, além de não consumir tempo para ser “destacado”. Levei a informação ao “chefe”. Ele não aceitou. Provei que faria uma economia de uns R$ 4,00 em cada 3.000 folhas. Mas não quis saber. É claro que foi uma sugestão... mas fiquei pensando: por que alguém preferiria comprar um produto que além de sair mais caro, ocuparia tempo de um funcionário ? Então reparei: o papel contínuo vem em caixas de 3000 folhas ... enquanto o “chamex” vem em pacotes de 500 folhas. Portanto mais fácil de “carregar” (se é que me entendem, sem querer insinuar nada).
Levando por este raciocínio, vou comprar um carro com pneu furado, por ser mais difícil de roubar. Vou cortar o banco de minha moto para que ninguém roube (acreditem, muitos fazem isto). Vou arrumar uma namorada feia para não ser traído ( cê que acha !). Se eu não quero ser roubado em meu escritório, o mais racional seria criar uma espécie de almoxarifado. De forma que a liberação do material fosse devidamente anotada, com registro de quem retirou o quê. Qualquer variação exagerada no consumo, indicaria desvios. Mas comprar um material de pior qualidade e mais caro só porque é mais difícil de ser furtado ... não dá. Obviamente o “chefe” nunca vai admitir que é este o motivo. Mas eu não sou bobo, ta na cara ! Tinha que desabafar. Isto porque muitas vezes eu também ajudo a destacar as “serrilhas” dos papéis contínuos. E enquanto faço isto fico pensando: - ô serviço desnecessário e imbecil ! com o papel A4 já no jeito de colocar na impressora e ser feliz. Mas fazer o quê. Quem pode manda, quem não pode ...
Caramba!
Há 2 semanas
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