Joseph pulou da cama pela manhã, como de costume. Dirigiu-se ao banheiro, como de costume. Para tomar sua ducha. Era inverno, início de agosto. Joseph ligou o chuveiro: estava desligado. “Só pode ser a mamãe” – pensou. Mais uma vez estava certo. A mãe de Joseph sempre desligava os chuveiros dos outros banheiros da casa: a casa tinha 04 banheiros, mas a mãe de Joseph queria que todos usassem apenas um. - “É porque dá muito trabalho limpar todos estes banheiros” – dizia a mãe de Joseph. Muito justo: tentar poupar o trabalho de limpar tantos banheiros. Mas Joseph sempre questionava: - Pra que tantos banheiros se não se pode usá-los ? Se são “de enfeite” ? - como dizia à sua mãe. Mas o que mais irritava Joseph era o fato de o melhor banheiro, aquele com "aqueeela" ducha italiana, ficar interditado: era o banheiro das visitas. Caramba, que desperdício ! O melhor banheiro da casa só era aberto para visitas ! E visitas muito esporádicas (a irmã de Joseph e o cunhado, que vinham duas vezes por ano).
Visitas eram esperadas ansiosamente por Joseph. Quando havia visitas ele comia bem, se banhava bem (naquela ducha italiana). Enfim: com visitas ele se fartava. Joseph não era contra a idéia de se conservar as coisas, desde que conseguisse usufruir das mesmas. Não fazia sentido passar desconforto para conservar um bem. É como deixar de comer hoje... para comer mais amanhã. O que irritava Joseph não era o rótulo “para visitas”, mas o rótulo “só para visitas”. É um tanto incerto: visitas sempre vinham, mas não se sabia quando ao certo (redundância).
Quando havia visitas na casa, parecia que o mundo preto-e-branco em que Joseph vivia se coloria. A casa se enchia de cheiros e de cores. Sempre era Natal nestas ocasiões. A sua mãe voltava a ser a grande cozinheira, a melhor que fora um dia. As sobremesas, o lanche, tudo se tornava delicioso novamente. Mas bastava as visitas partirem para todos os banheiros serem “selados” novamente. Principalmente o da ducha italiana. A comida voltava a não ter sabor. Não havia mais sobremesa.
Joseph não podia concordar com isto. Ele não concordava com esta “usura pelas coisas”. Parecia sem sentido para ele. Afinal, de que adiantava possuir tantas “dádivas” se não se podia usufruir delas ? Joseph se recordava de quando era criança: sempre havia a roupa que não se podia usar. E o sapato “para ocasiões especiais”. Às vezes os dois. Joseph uma vez teve um sapato que usou somente em uma ocasião. Joseph cresceu e o sapato ficou lá ... intacto. Estupidez – pensava Joseph. A casa de Joseph era cheia de objetos “intocáveis”: a porcelana do casamento, taças de cristal ótimas para se tomar um bom vinho ( nas quais ninguém nunca bebia). Tudo estupidez para ele. “Frescuragi”. “Um dia vou tomar café numa taça de cristal” – pensava Joseph. Seria uma grande heresia.
Voltando ao chuveiro: Após pular da cama, ele ligou o chuveiro do banheiro 1: desligado. Pensou: não pode ser pra poupar energia, seria muita frescura ! Foi pro chuveiro 2: desligado. Lembrou-se do chuveiro do barracão... Atravessou o quintal na manhã fria e tomou a ducha como queria. Não era a ducha italiana,mas pelo menos era quente. – Maluquice (pensou consigo). Um frio de rachar e saem desligando todos os chuveiros... tem criança nesta casa ? É molecagem ! A sua mãe justificava: - “ é que a água é calcária meu filho, a resistência queima ...”. Que paradigma ! Qual a solução para o encrostamento de calcário na resistência do chuveiro? R: Tomar banho gelado até no inverno. Fantástico ! Seguindo este raciocínio, se você corta o dedo ... deve amputá-lo, pois comprar “band-aid” daria muito trabalho... Joseph tinha acordado até feliz e bem disposto. Achou que iria trabalhar bem aquele dia. Ia...
Depois tinha o café... sem açúcar: a mãe de Joseph tinha problema com os seus níveis de glicose. Por isto mesmo Joseph preferia tomar café na rua. Café “pós-adoçado” não parecia o mesmo para ele. O bolo da mãe de Joseph também já fora o melhor do mundo. Agora “esfarelava” por falta de gordura, de manteiga. Se fosse classificável seria “light até o osso”.
A mãe de Joseph sempre observava que ele antigamente comia mais, “parecia até mais forte”. E que agora andava mais magro. Joseph respondia: - também “pudera” ! A senhora podia abrir um restaurante. Já tenho até o nome: “Comida de Hospital Ltda”. Era cruel, eu sei. Mas este era o desabafo de Joseph...
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