segunda-feira, 29 de junho de 2009

Adeus pequeno Michael

O que posso dizer sobre Michael Jackson ? Não vou dizer que era fã incondicional. Nem que marcou minha vida. Mas posso dizer que aprendi alguma coisa com ele. Com a sua vida. Ele é o exemplo "morto" do que a sociedade ocidental capitalista e de consumo pode fazer com as pessoas. Especialmente as “celebridades”. Ele foi o maior ícone da categoria de artistas denominadas de “super stars”. Esta categoria está muitos patamares acima dos demais “famosos”. Além de Michael Jackson, talvez Madonna, Elvis, os Beatles dentre outros atingiram este status de “lendas”. Continuamente tendo suas vidas vasculhadas. Seguidos de perto por “paparazzi”. Vendendo notícias mais por causa de sua vida privada do que pelo trabalho artístico.
Quando tomei conhecimento da possível morte de Michael Jackson (pois ainda não havia sido confirmada), a primeira palavra que me veio à cabeça foi “VÍTIMA”. Sim, Michael Jackson foi uma vítima. Primeiramente vítima de um pai violento e disciplinador, que acordava as crianças (inclusive Michael, o mais novo) de madrugada para que ensaiassem. Biografias não autorizadas descrevem o pai de Michael como um homem ambicioso, violento e espancador. Ele via nos filhos diamantes brutos ( e realmente eram) a serem lapidados debaixo de pancada, se “necessário” fosse. O pequeno Michael, talvez por se destacar dentre os demais, era vítima preferencial de seu pai.
Não teve uma infância feliz o pequeno Michael. Talvez por isto (sem querer bancar o psicólogo) Michael Jackson transparecesse uma personalidade tão infantilizada. Pessoas próximas o descreviam como alguém doce e atencioso, mas que possuía um comportamento infantil. Isto pode ser constatado em escolhas como a construção do seu rancho, denominado “Neverland” e o estranho hábito de comprar brinquedos. Algo bem sintomático. O sucesso e o dinheiro também podem ter agravado algum distúrbio psicológico surgido devido a tantos traumas: os espancamentos na infância, o vitiligo ( nunca totalmente confirmado), o fato de ter se sentido um adolescente feio e deslocado. Neste momento, não faltam cirurgiões plásticos, muitas das vezes mal intencionados, que prometem milagres. Uma combinação temerária: médicos não responsáveis e um cliente milionário e excêntrico. As mudanças na aparência surgiram após o sucesso estrondoso de “Thriller”, sem dúvida o álbum de maior sucesso da história, que creio não será superado.
A vida de Michael foi para mim a prova cabal e definitiva de que dinheiro não traz felicidade. Pelo contrário, pode mandá-la pra bem longe. Aí tem sempre aqueles que dizem: “mas manda buscar”, “ajuda bastante” e tra-la-la. Tubo bem. Mas o dinheiro parece ser um imã de desgraças. Nada faz o homem perder tanto a noção de seus limites como o dinheiro. Sente-se imortal, inatingível, corajoso. E é aí que os “abutres”, as “hienas” se aproximam: mulheres interesseiras, traficantes, cirurgiões plásticos, donos de clínica de estética prometendo milagres. Surgem com voracidade, querendo aproveitar-se da fortuna alheia. Tirar a sua “casquinha”. E quando encontram alguém sem malícia, criado sempre cercado de puxa-sacos, que sempre dizem “sim”, o envolvem facilmente. O convencem de que precisa de mais uma plástica, de que precisa adquirir mais uma mansão, mais um carro, mais isso e aquilo.
Outro fato que não posso deixar de perceber é a incrível semelhança entre a sua morte e a de outro titã: Elvis Presley. Juntamente com Michael, talvez os dois maiores do mundo da música dos últimos cinqüenta anos (como talentos individuais, excluídos os Beatles). Elvis também abusava de remédios. Também morreu jovem e atravessava um certo ostracismo na carreira (como Michael). Havia se tornado uma caricatura de si mesmo: obeso e sem o mesmo brilho dos primeiros anos. Mesmo assim, o talento de ambos era infinitamente superior a qualquer bobeira que fizessem na carreira. Com Michael era assim: tinha o “toque de Midas”. Quase tudo o que fazia se tornava sucesso de público. Mesmo com a tumultuada vida privada e os processos por abuso. O seu profissionalismo era impecável. Na noite anterior à sua morte ensaiava com seus bailarinos. Talvez o afã de ter um retorno triunfal o levou a se exceder nos analgésicos para dor. O sucesso torna-se uma obsessão que ameaça a própria integridade física. Não só cantores, mas atletas também são vítimas disto: uso de anabolizantes, treinamentos que ameaçam a saúde.
Michael cometeu um suicídio “involuntário”. Foi vítima, como tantos outros, de sua própria auto-imagem. Desculpe-nos pequeno Michael. Nós criamos ídolos, esquecendo-nos de que eles são de carne e osso como nós. Exigimos deles um desempenho e uma postura supra humanos. E nos assustamos quando partem tão cedo. Pena que não se aprenda nunca. Kurt Cobain, Elvis, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Elis Regina ... São tantas vítimas desta roda de fogo do showbizz, que daria um livro só de nomes. Que Deus lhes dê o descanso que não tiveram em vida.
Esta música Robbie Williams escreveu para homenagear Elvis. Mas sombriamente ela diz respeito a Michael também (parece uma premonição):
Advertising Space ( Espaço de Publicidade) - Tradução Robbie Williams
Não há nenhum modo de saber
O que se passava em seu coração
Quando ele parou de bater
O mundo inteiro se abalou
Uma tempestade estava passando por você
Esperando por Deus para acabar com isso
E levantou seu pescoço na escuridão
Todos em sua volta eram desonestos
Dizendo algo
Não há nenhuma dignidade na morte
Para vender ao mundo seu último suspiro
Eles ainda estão lutando
Por tudo que você deixou
Eu vi você parado nos portões
Quando Marlon Brando faleceu
Você tinha aquele olhar em seu rosto
Espaço de publicidade
Ninguém aprendeu pelos seus erros
Deixamos nossos benefícios serem desperdiçados
O que sobra em cada caso
É espaço de publicidade
Através de seus olhos, o mundo estava queimando
Por favor, seja gentil
Ainda estou aprendendo
Você parecia falar
Enquanto continuava se levantando
Eles te envenenaram, te pondo em risco
Até que ponto você compreendeu ?
Todos amam a vida, exceto você
Um agente especial para o homem
Através do Watergate e Vietnã
Ninguém realmente deu a mínima
Você acha que a CIA se importou ?
Eu vi você parado nos portões
Quando Marlon Brando faleceu
Você tinha aquele olhar em seu rosto
Espaço de publicidade
Ninguém aprendeu pelos seus erros
Deixamos nossos benefícios serem desperdiçados
O que sobra de cada caso
É espaço de publicidade
Ninguém aprendeu pelos seus erros
Deixamos nossos benefícios serem desperdiçados
O que sobra de cada caso
É espaço de publicidade
Eu vi sua filha, cara ela é tão linda
Fiquei com medo, mas a desejei mesmo assim
Rapaz, ela parece muito com você !

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Formatura

Anteontem fui a um culto de ação de graças de formatura de uma turma de formandos em medicina. Ontem fui a uma Missa com o mesmo propósito: ação de graças. Interessante: me deparei com o fato de que muitas vezes praticamos as coisas sem conhecer o seu significado. Por puro formalismo. Por exemplo: a locução “ação de graças”. Infelizmente a maioria dos participantes destes eventos não tem a mínima dimensão do que ocorre ali. Todos muito preocupados em tirar fotos, na demora do evento, em cumprimentar logo os formandos. Ação de graças é simplesmente o ato de desejar reconhecer que Deus é o “motor” de nossa vida e a ele devem se direcionar as nossas realizações, nossas conquistas, para que elas sejam plenificadas de sentido.
O que achei interessante é que tanto o pastor quanto o padre, em dias diferentes, em suas pregações, chamaram a atenção para a nobreza da profissão médica e para a necessidade de servir. Servir ao próximo. Chamaram a atenção para a necessidade do uso da medicina como meio de aliviar a dor, o sofrimento. Mas sem nunca esquecer-se da limitação humana do médico. Na missa, o padre citou uma passagem do Eclesiástico em que o autor do texto bíblico enaltece a profissão médica e recomenda que se honre o médico e o procure na hora do padecimento. Fiquei pensando: oxalá estes jovens prestem atenção a estas palavras e tratem os pacientes com maior dignidade. Infelizmente não temos observado muito disto por aí. E não só na profissão médica, mas em todos os setores.
Não sou romântico a ponto de acreditar que todo mundo busque uma profissão por ter uma vocação verdadeira. Mas mesmo que não haja vocação, creio que se possa exercer uma profissão com dignidade e respeito ao próximo. É claro que precisamos também de uma remuneração que atenda nossos anseios. Mas se não for o caso, penso que nada justifique que o médico maltrate o paciente, o advogado seja mal-educado para com o cliente ou o vendedor destrate o freguês.
Infelizmente todas as profissões estão cada vez mais mercantilizadas. Recentemente a imprensa noticiou uma série de erros médicos cometidos por cirurgiões que não tinham especialização em cirurgia plástica, mas exerciam tal prática. Ora, um profissional destes deve pensar assim: vou fazer a cirurgia e o paciente que se exploda ! Tô nem aí se ele tiver um choque ou uma parada cardíaca ! Outros “inventam” procedimentos para receber pelo SUS um serviço não prestado. Outros maltratam o paciente quando são conveniados de planos de saúde (que pagam mixaria, reconheço) e não clientes particulares. Certamente não recebem o preço justo. Mas isto não dá autorização para maltratar aquele que procura seus serviços.
Diante disto tudo, não se pode deixar de pensar no antigo “médico de família”, no “jardineiro de confiança”, naquele padeiro do qual talvez sua mãe ou avó foi cliente por décadas. Época em que a amizade e o prazer de bem servir talvez fossem a maior realização do profissional, ao invés de amealhar um lucro rápido, sem se preocupar com o lado humano da relação profissional. Houve época em que as profissões, mais que uma técnica, eram um sacerdócio. Uma arte. Isto não pode morrer.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Preguiça de postar

Hoje tô com preguiça de postar. Tô sem inspiração, sei lá. E quando a impaciência me pega, sempre me vem o humor sarcástico, este vício idiota que tenho, do qual um dia vou me libertar. Olha só como a internet tem "utilidades", que muita gente educada e bem intencionada envia pro seu e-mail para te livrar da ociosidade e "inspirá-lo" ... há - há - há, como viver sem saber disto ? :
AXIOMAS PESSIMISTAS
"Quando você estiver com apenas uma mão livre para abrir a porta, a chave estará no bolso oposto." (Lei de assimetria de Mife Raram)
"Quando tuas mãos estiverem sujas de graxa, vai começar a te coçar, no mínimo, o nariz." (Lei de mecânica de Kikokô)
"O seguro cobre tudo, menos o que aconteceu." (Lei de Nonti Pagam)
"Não importa por qual lado seja aberta a caixa de um medicamento. A bula sempre vai atrapalhar.." (Princípio Dó# Ré# Médio)
"Quando você acha que as coisas parecem melhorar é porque algo lhe passou despercebido."
(Primeiro teorema de Tamus Ferradus)
"Os problemas não se criam, nem se resolvem, transformam-se." (Lei da persistência de Waiterc Pastar)
"Sempre que as coisas nos parecerem muito fáceis é porque não entendemos todas as instruções." (Princípio A. Troppe Lado)
"Se você mantém a calma quando todos perdem a cabeça, certamente é porque você não captou a gravidade do problema.." (Axioma de Len Tata Pada)
"Você só vai conseguir chegar ao telefone exatamente a tempo de ouvir quando desligam." (Princípio de Des Ling A. Bell)
"Se só existirem dois programas de TV que valham a pena assistir, ambos passarão no mesmo horário." (Lei de Putz)
"A probabilidade de se sujar comendo é diretamente proporcional à necessidade de estar limpo" (Axioma Higiênico de Ki Droga)
"A velocidade do vento é diretamente proporcional ao preço do penteado. " (Lei Meteorológica Assus T.A. Dora)
"Sempre que você chegar pontualmente a um encontro, não haverá ninguém lá para comprovar. E se, ao contrário, você se atrasar, todo mundo vai ter chegado antes de você." (Princípio de Tardelli de Mora)
"O mundo é feito pelo esforço dos inteligentes, mas são os imbecis que o desfrutam. " (Corolário de Nuinkane Kurta)
"Quando, depois de anos sem usar você decide arquivar alguma coisa... vai precisar dela amanhã." (Lei irreversível de Kitonto Kifostes)
"Você passa anos eliminando gases silenciosos e inodoros, sozinho em ambientes livres e com ar puro. Mas, quando você precisa deixar escapar uma pequena e inocente flatulência infantil num ambiente público, ela soará como um constrangedor toque de trombeta e/ou terá odor incompatível com a sua própria tolerância respiratória." (Axioma da ventilação de Bloke Arisbest)
(Autoria desconhecida)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Um par de All Star

Um dos sentimentos mais imprescindíveis ao ser humano é a fé. Não somente a fé em algo transcendente (que certamente é a mais importante), mas a fé como certeza de que “vale a pena”. De que a vida tem tesouros escondidos. De querer apostar. No entanto, por outro lado, há as trevas. As tempestades que atravessam nossa vida. E o risco maior destes momentos de trevas é o de eles nos aprisionarem. Aprisionarem em sentimentos, situações, medos.
Em algum momento perdi a fé nos relacionamentos amorosos. Não conseguia crer que poderia haver sinceridade ali. Não conseguia ou não queria. Tudo isto por causa de uma fulana. Alguém em quem eu apostei. Pensei que poderia colher algo ali. E pelo que senti foram só espinhos. Não sei por que, ela não gostava de meu "All Star". Um dia me disse que era ridículo... Dizia gostar de mim, mas não respeitava meu "All Star"... De repente a fada transfigurou-se em monstro em minha frente. Acontece que eu acreditava que o amor curava tudo, remediava qualquer coisa. Como dizia São João da Cruz: “ onde não há amor, plante amor e colherá amor”. E isto é verdade. Pode-se colher. No entanto é preciso que a pessoa esteja aberta, pré-disposta. É uma via de mão dupla. Já escrevi neste blog que o amor é gratuito. Se amamos, não podemos exigir ser correspondidos. É claro que se isto ocorre, melhor ainda. Deus nos ama assim. E isto não é masoquismo. O amor humano é imperfeito porque somos imperfeitos. E o erro está em querer encontrar a “pessoa ideal”, pois pessoa ideal não existe. O nome “ideal” já diz tudo: só existe como idealização. O que existe são seres humanos, com suas limitações e imperfeições.
Quanto ao título, “ um par de All Star”, é representativo dessa necessidade de completude que (felizmente ou infelizmente ?) temos nesta vida. (...) “Quem inventou o amor, me explica por favor” (...), já dizia Renato Russo. Pra que serve este amor romântico ? - tão irracional e idealizado. Utópico mesmo. Fantasioso. Não seria muito mais fácil ser racional ? Pra que serve ficar à mercê de sentimentos ? Às vezes fico pensando: “ em determinado momento é que era bom: seu pai escolhia uma mulher pra você, e pronto... Bastava que fosse mais ou menos formosa e boa dona de casa, afinal o que há além disso ? O dia-a-dia não desgasta qualquer relacionamento ? Afinal, hoje temos total liberdade de escolher nosso par e a quantidade de divórcios só aumenta. O excesso de romantismo é um mal, porque idealiza tudo e nos faz intolerantes aos pequenos defeitos. Queremos tudo perfeito.
Lembrei-me agora de uma alegoria: a Cinderela. Nesse conto de fadas, o príncipe busca a “dona do par” do sapato. O sapato era a única coisa que poderia fazer com que ele reconhecesse por quem se encantou. O All Star é tudo de bom. Representa a simplicidade. Claro que hoje os jovens das classes mais abastadas apropriaram-se do All Star. Mas como que se disessem: não somos tão vazios assim. Não nos reduzimos a um tênis de R$ 600,00. Não é isto que nos faz legais.
Sei que há um par de All Star por aí como o meu. E por que justamente “All Star” ? Porque acho o calçado mais despojado que há. Tão simples e ao mesmo tempo moderno. Não chama tanta atenção como os "Nike" e "Pumas" da vida, mas também tem seu charme. Não é "pretensioso". Confortavelmente reveste seu pé. E para que mais serve um calçado? Assim, um par não precisa ser uma beldade. Não precisa ser "poliglota". Nem muito inteligente. Mas uma coisa é fundamental: o despojamento, a capacidade de sorrir da vida, de sorrir para a vida. Sem afetações. Mulher de All Star. Mulher com camisa de futebol. Mulher que gosta de comer porcaria e falar besteira. Chega de beleza superficial. Esta beleza é como uma casca que não resiste às primeiras investidas do tempo. Eu amo a beleza desengonçada, acima do peso, nariz desproporcional. Eu amo a imperfeição. Nossas imperfeições (as inocentes, inofensivas) é que nos tornam únicos. Não me fixo em modelos, padrões. Chega dessas mulheres que tentam segui-los. Que parecem robôs ao seu lado. Quero sorriso, com alface no dente e nariz sujo de mostarda. E de uma moleca. Moleca de “All Star”, sujo e surrado. É disso que o homem que quer sorrir precisa.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Canta parabens pra gente ?!


Ontem eu vi uma cena bacana. Foi na Igreja , na missa das 18:30. Como de costume, no final da missa o padre pergunta se há algum aniversariante. Se alguém se manifesta, convida para ir ao altar e canta “Parabéns”. Apenas um casal que fazia 30 anos de casamento foi ao altar. Então o sacerdote puxou o coro e todos cantaram parabéns. Depois deste instante, como de costume, o padre dá os recados, antes da benção final. E eis que duas meninas, bem pequenininhas(me pareciam irmãs), subiram até o altar e ficaram paradas, em pé, olhando pro padre. Ele continuou dando os recados, até que se deu conta da presença das duas, que olhavam fixamente pra ele. O padre sorrindo perguntou: - o que as moças querem ? Elas responderam na lata: - Canta parabéns pra gente também ! Não pude conter o riso, assim como muitos na igreja. Elas foram lá por conta própria. A mãe envergonhada no banco, olhava de longe. Elas deviam ter o quê ? Quatro, talvez cinco anos no máximo.

A cena me fez pensar na riqueza que é ser criança. É bom de mais meu Deus ! Pena que não seja assim pra sempre. A falta de censura, a inocência de desejar que cantem pra você e ir até lá e pedir. Pensei no momento: tenho que registrar isto ! Pra não me esquecer. Gosto de aprender muito com o que observo. E por incrível que pareça, aprendo muito mais observando as crianças que qualquer outra coisa. Imagino que as crianças são o ser humano excelente. Depois é que vamos sendo estragados, até virar qualquer coisa pior. Depois se incutem os medos. A dissimulação. A mentira.





Não quero defender a falta de limites. Nem sugerir que sejamos irresponsáveis e demos vazão a qualquer desejo. Mas seria tão bom não ser censurado por desejar coisas simples assim: “canta parabéns pra mim” ! Isto resolveria tantos problemas ! Neste aspecto as crianças, mesmo que sem o saber são muito mais sábias que nós adultos. O que acontece geralmente se alguém esquece do nosso aniversário ? Geralmente a gente emburra, faz “cara de paisagem” e os que nos cercam ficam tentando descobrir o que há de errado. Por que não soltar um simples “canta parabéns pra mim, caramba !”


Admito que muitas pessoas conseguem manter um espírito infantil (não no sentido pejorativo), manter-se sempre encantadas. E esta postura parece trazer uma certa “imunidade” às vicissitudes da vida. Fazer com que encarem tudo com espírito desarmado. Canta parabéns pra gente !?


Into The Heart (tradução) U2 - Dentro Do Coração
Dentro do coração
De uma criança
Eu permaneço um pouco
Eu posso voltar
Dentro do coração
De uma criança
Eu posso sorrir
Eu posso ir lá
Dentro do coração
De uma criança
Dentro do coração
De uma criança
Eu posso voltar
Eu posso ficar por um instante
Dentro do coração

terça-feira, 16 de junho de 2009

Bodas

Neste sábado fui a um casamento. Particularmente gosto destes momentos. Acho que são muito ricos humanisticamente. Interessante observar o momento que (ainda hoje) é o início de boa parte das novas famílias. Muito se fala da crise do casamento, mas ainda acho um algo completamente factível. Ainda é possível. Por outro lado imagino que nem todos são vocacionados para tanto. São os chamados lobos - solitários. Tão em voga nos dias de hoje, uma multidão de solteiros ou pessoas que moram sozinhas. Muito comum nos grandes centros.
Mas voltando à cerimônia em si, gosto de observar estes momentos. De tentar fazer uma leitura a respeito. E as cerimônias de casamento têm uma riqueza humanística muito grande. As moças solteiras se emocionam e suspiram. As que estão com os namorados costumam dar aquela olhada intimidatória do tipo : “ - e o senhor quando é que vai se decidir, hein ?”. Reparei em uma moça que apertava a mão do namorado com tanta força que pensei que seria necessário um macaco hidráulico para soltar da mão do rapaz. Muito inspirador, não ?
Dizem alguns que casamentos são das melhores oportunidades para arrumar um par. Creio que sim. Principalmente se for casamento na família. Aí sempre tem aquela tia mais velha que cisma em te apresentar alguém. São os cupidos de plantão. Fica aquela situação constrangedora: “- Pois é né, coisa chata ! Não sei por que a tia tem essa mania... – Tudo bem ! Qual o seu nome ? ....” E o pior é que isso funciona. Conheço uns dois casos em minha família: casamentos que começaram em casamentos. É rapaz, se você não arrumar namorada nestas ocasiões, o trem ta feio mesmo !
Mas um fato não posso negar: em poucas ocasiões as mulheres costumam se apresentar tão bonitas. Nada faz uma mulher tão atraente como um vestido longo. Os vestidos dão um ar de feminilidade como nenhum outro acessório ou roupa. Deve ser por isto que as empresas fazem elas usarem aqueles “terninhos”. Para esquecermo-nos que são mulheres. Aí dá pra trabalhar em paz, sem perder a concentração. Depois tem os cumprimentos e os bombons... Por que será que os bombons vêm depois do cumprimento ? Será que é um incentivo pra você pegar aquela fila ? – “Não ia cumprimentar não, a fila ta grande... mas tem os bombons né ?!” Depois dos cumprimentos todo mundo fica na expectativa, conversando na porta da igreja. – Vai ter festa ? – Sei não, vamo ficar por aqui (jogando conversa fora) .... quem sabe tem convite ?! Desta vez não tive paciência de esperar. Perdi a festa.
Voltando às moças ... Em eventos como este, quase não se reconhece algumas. Aí vem aquele pensamento: - se a senhorita andasse assim todos os dias, eu casava na hora ! Ficam danadas de bonitas. Não entendo bem, mas tem as tais de escovas e sei lá o quê. Nós homens é que somos relaxados mesmo. Tem caras que nem se dão ao trabalho de vestir um terno. Fico pensando: - Será que o cara não tem nem um blazer em casa, nem umzinho ? Bons tempos quando se ia ao cinema de terno ! Hoje há tanta informalidade...
Nisto tudo a maior expectativa ainda é guardada para a entrada da noiva. Com justiça os olhares todos se voltam para a entrada na igreja ao início da marcha nupcial. Coisa bonita todo esse ritual. Afinal o que seria da vida sem um pouco de fantasia ? Os ornamentos, velas, orquestra, tudo isso é muito saudável. O perigo é pensarem que será sempre assim. Aí sim o casamento corre risco.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Valentine's Day

Dia dos namorados X dia das mães X dia da vovó X dia da criança. Destes personagens, quem é o mais tirano ? A vovó, que nem sabe do seu dia ? A mamãe (para quem tudo o que o filhão faz é lindo) ? A criança (que chora, sapateia se não ganhar nada) ? ou a namorada ( se você der um presente mais barato que o dela vai escutar o resto do ano) ? Parabéns pro sistema capitalista. Se conseguiram mercantilizar o Natal ( que é o nascimento de Nosso Senhor), imagina se não fariam o mesmo com o dia dos namorados...
Penso que os namorados deveriam utilizar este dia para coisas mais produtivas. Por exemplo: um dia com a família de sua namorada (não é piada não !). Ou melhor ainda: 24 horas de tolerância, sem implicâncias com o outro. Mas infelizmente a coisa descamba pro sentimentalismo. E a pior representação disto são aqueles carros de som insuportáveis, que param na rua e ficam tocando música no último volume, constrangendo não só a “vítima-alvo”, como toda a vizinhança: - “Fulana, saia na porta ! o Fulano quer declarar o seu amor”... ERGH ! Tenha paciência, isto é muito tosco. Ainda mais com aqueles solos de saxofone (geralmente do Kenny G), música de recepção de baile de formatura. Depois tem a tal prática de mandar flores, caixa de bombons... ( este é o único dia do ano em que se pode presentear uma mulher com bombons). Provavelmente em outros dias se escutará: -“ quer que eu engorde, vire baleia é ?! ” Mas no dia dos namorados pode.
Depois tem o jantar em um lugar chique. Uma esticadinha aonde você quiser (o problema é seu). Pra mim deve ser um dia em que reine a paz. Os enamorados deveriam fazer um “pacto de não-agressão”. Que neste dia reine a paz, se possível. Digo isto porque dia desses vi um cena engraçada: uma namorada esbravejava com o namorado. O moço estava todo jururu, cabisbaixo. Emprensado contra o muro de uma casa, tentava desvencilhar-se dos tapas da moça. Fiquei pensando comigo: - “Esse aí deve ter aprontado uma bem grande” ! É rapaz, amor de namorada é diferente do de mãe: tem que prestar conta "sinsenhô" !
Neste dia os marmanjos ficam todos bobos. Vergonha pra classe masculina ! Faz declaração, faz chororô, sobe em carro de música (naquele que citei antes). Os solteiros ficam na espera ( o dia dos namorados é o jubileu dos encalhados). Aí tem sempre aquelas cantadinhas ordinárias do tipo: - “ quer passar o dia dos namorados acompanhada boneca ?” Aí a moça responde mais ou menos assim: - “prefiro morrer atropelada por um trem” ! Quem mandou ser engraçadinho ? Este é o dia em que as mulheres solteiras estão mais sensíveis no ano. Seria como que a “super TPM”. Melhor nem mencionar palavras como “namoro”, “namorado”, “presente”... você correrá risco de morte !
Este também é o dia internacional dos “ex”. É a sua chance. Não importa quão cafajeste você seja: se quiser voltar com aquela garota, é hoje ou nunca ( isto se ela ainda estiver solteira, claro !). Uma mulher faz quase de tudo pra não ficar sozinha hoje. É golpe baixo, eu sei. Mas já disseram que no amor e na guerra...Eu tô no ritmo daquela música: “ to nem aí, to nem aí” ... Mais soltinho que arroz de primeira. Mais sozinho que Robinson Crusoé em sua ilha. Tudo bem, tenho que dormir cedo hoje mesmo ! Viva os solteiros do Brasil ! “ Ah, mas você não vai ganhar presente”... mas também não vai gastar. Vai pra onde quiser. Pode sentar-se em uma mesa e olhar pros quatro cantos sem ganhar um beliscão. Liberdade é bom. Só resta descobrir pra quê.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dissecando

Tenho andado sem muita vontade de escrever nos últimos dias. Talvez porque percebi que precisava me recolher um pouco. A verborragia desenfreada, sem reflexão, às vezes pode nos levar a não traduzir as idéias como queríamos.
Estava pensando sobre mim. Sobre a minha personalidade. E cheguei à conclusão que mudei muito de alguns anos pra cá. Sempre fui tímido, isto é fato. Mas melhorei bastante. Consegui, desde o fim da adolescência, tornar-me mais sociável, menos "bicho-do-mato". Mas em outros aspectos penso que piorei bastante. Quando criança e pré-adolescente, era muito positivo. Imaginava que tinha uma vida inteira pela frente para sonhar, realizar e ao fim da vida deixar este mundo um pouquinho melhor. Deixar minha contribuição. No entanto, depois que me mudei para B.H., longe da família e com as coisas não acontecendo como eu queria e quando eu queria, fui dando vazão ao "lado negro da força". Explico: hoje entendo que eu tenho o que alguns teólogos chamam de "alma mimada". E isto consiste no seguinte: são pessoas que quando as coisas correm "naturalmente", sem maiores traumas ou esforços, estão felizes e bem-humoradas. Mas se surge a menor contrariedade, já se abatem, se iram, praguejam, esquecem tudo o que ocorreu de positivo até ali e fixam-se no problema.
Após refletir, percebi que tenho essa mania de "perfeição" desde criança. Até aí não há nada demais: em ser perfeccionista. O problema é quando se é perfeccionista e preguiçoso. Aí está o paradoxo. Você quer que as coisas saiam perfeitas, mas não está disposto a mergulhar de cabeça. É como a brincadeira que o Quico sempre fazia com o Chaves (no programa homônimo): "- Você quer ? - Você vai me dar ? - Mas primeiro diga se você quer... ." Não há como saber se algo valerá a pena antes de finalizado. O que eu pretendia era ter uma bola de cristal que disesse: " vá por aqui e serás feliz "... Mas não existe. Já discuti muito isto no analista. E concluí que na verdade comprei uma idéia falsa, ainda na infância. Rememorando, recordei o que poderia ser a origem disto (combinado com minha tendência natural ao perfeccionismo). Meu pai tinha esta frase: "Não entre em nada para perder". O que ele queria dizer era provavelmente "não faça nada por fazer" ou "esforçe-se". No entanto, infelizmente, o eu-menino interpretou isto como: "não se pode perder" ou "errar é inadmissível". Aí o SUPEREGO diz: - "você não pode falhar, é feio"... E o ID procura achar uma solução pra isto: - " a única forma de ter garantias de que não falhará é não fazendo nada" ... Parece lógico ? Claro que não ! É que nosso ID é irracional. Ele procura soluções fáceis para problemas profundos. E onde estava o EGO nesta história ? Não existia. Estava adormecido. Aí é uma loucura: um diálogo entre o ID e o SUPEREGO. Um completamente irracional, instintivo. E o outro super racional. Não poderia dar certo.
O que muitas instituições humanas e muitos pais tentam fazer é suprimir completamente o ID e fazer o SUPEREGO ter preponderância sobre o EGO. Aí então teríamos um "ser disciplinado" e com objetivos, correto ? Sim, até o dia em que ele entrar em um colégio atirando pra todo lado ( porque não tem um EGO bem assentado, uma inteligência emocional). Ao tentar nos impor modelos "ideais", ídolos (Rui Barbosa, Machado de Assis, etc), o que se faz à criança é muito cruel. Isto porque as pessoas são "irrepetíveis". Só houve um Leonardo da Vinci, um Einstein, um Galileu. O que precisamos fazer é gastarmos mais tempo em nos conhecer: quais são as aptidões, os talentos. Enfim: quem sou eu. Mas ao invés disto, os pais colocam os meninos em " N " cursos e traçam metas para o "futuro doutor". Sem saber muitas vezes que ali se esconde um jogador de futebol, músico ou outras "profissões de vagabundo".
O que o menino precisa é conhecer-se. Concentrar-se nos seus gostos, suas particularidades. Não interessa se seu pai acha bonito ser médico, juiz, militar. Melhor um camelô de bem com a vida do que um executivo frustrado, que mal pode esperar o fim do dia para afrouxar o nó da gravata e ir correndo pro futebol. Acho que a preguiça de fazer as coisas vem muito do desencanto. Da incapacidade de vislumbrar ali algo que valha a pena. Por outro lado, devemos ter a consciência que não existe tarefa neste mundo que em algum momento não tenha algo de árido. Pena que só aprendamos isto tardiamente.