Tenho andado sem muita vontade de escrever nos últimos dias. Talvez porque percebi que precisava me recolher um pouco. A verborragia desenfreada, sem reflexão, às vezes pode nos levar a não traduzir as idéias como queríamos.
Estava pensando sobre mim. Sobre a minha personalidade. E cheguei à conclusão que mudei muito de alguns anos pra cá. Sempre fui tímido, isto é fato. Mas melhorei bastante. Consegui, desde o fim da adolescência, tornar-me mais sociável, menos "bicho-do-mato". Mas em outros aspectos penso que piorei bastante. Quando criança e pré-adolescente, era muito positivo. Imaginava que tinha uma vida inteira pela frente para sonhar, realizar e ao fim da vida deixar este mundo um pouquinho melhor. Deixar minha contribuição. No entanto, depois que me mudei para B.H., longe da família e com as coisas não acontecendo como eu queria e quando eu queria, fui dando vazão ao "lado negro da força". Explico: hoje entendo que eu tenho o que alguns teólogos chamam de "alma mimada". E isto consiste no seguinte: são pessoas que quando as coisas correm "naturalmente", sem maiores traumas ou esforços, estão felizes e bem-humoradas. Mas se surge a menor contrariedade, já se abatem, se iram, praguejam, esquecem tudo o que ocorreu de positivo até ali e fixam-se no problema.
Após refletir, percebi que tenho essa mania de "perfeição" desde criança. Até aí não há nada demais: em ser perfeccionista. O problema é quando se é perfeccionista e preguiçoso. Aí está o paradoxo. Você quer que as coisas saiam perfeitas, mas não está disposto a mergulhar de cabeça. É como a brincadeira que o Quico sempre fazia com o Chaves (no programa homônimo): "- Você quer ? - Você vai me dar ? - Mas primeiro diga se você quer... ." Não há como saber se algo valerá a pena antes de finalizado. O que eu pretendia era ter uma bola de cristal que disesse: " vá por aqui e serás feliz "... Mas não existe. Já discuti muito isto no analista. E concluí que na verdade comprei uma idéia falsa, ainda na infância. Rememorando, recordei o que poderia ser a origem disto (combinado com minha tendência natural ao perfeccionismo). Meu pai tinha esta frase: "Não entre em nada para perder". O que ele queria dizer era provavelmente "não faça nada por fazer" ou "esforçe-se". No entanto, infelizmente, o eu-menino interpretou isto como: "não se pode perder" ou "errar é inadmissível". Aí o SUPEREGO diz: - "você não pode falhar, é feio"... E o ID procura achar uma solução pra isto: - " a única forma de ter garantias de que não falhará é não fazendo nada" ... Parece lógico ? Claro que não ! É que nosso ID é irracional. Ele procura soluções fáceis para problemas profundos. E onde estava o EGO nesta história ? Não existia. Estava adormecido. Aí é uma loucura: um diálogo entre o ID e o SUPEREGO. Um completamente irracional, instintivo. E o outro super racional. Não poderia dar certo.
O que muitas instituições humanas e muitos pais tentam fazer é suprimir completamente o ID e fazer o SUPEREGO ter preponderância sobre o EGO. Aí então teríamos um "ser disciplinado" e com objetivos, correto ? Sim, até o dia em que ele entrar em um colégio atirando pra todo lado ( porque não tem um EGO bem assentado, uma inteligência emocional). Ao tentar nos impor modelos "ideais", ídolos (Rui Barbosa, Machado de Assis, etc), o que se faz à criança é muito cruel. Isto porque as pessoas são "irrepetíveis". Só houve um Leonardo da Vinci, um Einstein, um Galileu. O que precisamos fazer é gastarmos mais tempo em nos conhecer: quais são as aptidões, os talentos. Enfim: quem sou eu. Mas ao invés disto, os pais colocam os meninos em " N " cursos e traçam metas para o "futuro doutor". Sem saber muitas vezes que ali se esconde um jogador de futebol, músico ou outras "profissões de vagabundo".
O que o menino precisa é conhecer-se. Concentrar-se nos seus gostos, suas particularidades. Não interessa se seu pai acha bonito ser médico, juiz, militar. Melhor um camelô de bem com a vida do que um executivo frustrado, que mal pode esperar o fim do dia para afrouxar o nó da gravata e ir correndo pro futebol. Acho que a preguiça de fazer as coisas vem muito do desencanto. Da incapacidade de vislumbrar ali algo que valha a pena. Por outro lado, devemos ter a consciência que não existe tarefa neste mundo que em algum momento não tenha algo de árido. Pena que só aprendamos isto tardiamente.
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