quinta-feira, 25 de junho de 2009

Formatura

Anteontem fui a um culto de ação de graças de formatura de uma turma de formandos em medicina. Ontem fui a uma Missa com o mesmo propósito: ação de graças. Interessante: me deparei com o fato de que muitas vezes praticamos as coisas sem conhecer o seu significado. Por puro formalismo. Por exemplo: a locução “ação de graças”. Infelizmente a maioria dos participantes destes eventos não tem a mínima dimensão do que ocorre ali. Todos muito preocupados em tirar fotos, na demora do evento, em cumprimentar logo os formandos. Ação de graças é simplesmente o ato de desejar reconhecer que Deus é o “motor” de nossa vida e a ele devem se direcionar as nossas realizações, nossas conquistas, para que elas sejam plenificadas de sentido.
O que achei interessante é que tanto o pastor quanto o padre, em dias diferentes, em suas pregações, chamaram a atenção para a nobreza da profissão médica e para a necessidade de servir. Servir ao próximo. Chamaram a atenção para a necessidade do uso da medicina como meio de aliviar a dor, o sofrimento. Mas sem nunca esquecer-se da limitação humana do médico. Na missa, o padre citou uma passagem do Eclesiástico em que o autor do texto bíblico enaltece a profissão médica e recomenda que se honre o médico e o procure na hora do padecimento. Fiquei pensando: oxalá estes jovens prestem atenção a estas palavras e tratem os pacientes com maior dignidade. Infelizmente não temos observado muito disto por aí. E não só na profissão médica, mas em todos os setores.
Não sou romântico a ponto de acreditar que todo mundo busque uma profissão por ter uma vocação verdadeira. Mas mesmo que não haja vocação, creio que se possa exercer uma profissão com dignidade e respeito ao próximo. É claro que precisamos também de uma remuneração que atenda nossos anseios. Mas se não for o caso, penso que nada justifique que o médico maltrate o paciente, o advogado seja mal-educado para com o cliente ou o vendedor destrate o freguês.
Infelizmente todas as profissões estão cada vez mais mercantilizadas. Recentemente a imprensa noticiou uma série de erros médicos cometidos por cirurgiões que não tinham especialização em cirurgia plástica, mas exerciam tal prática. Ora, um profissional destes deve pensar assim: vou fazer a cirurgia e o paciente que se exploda ! Tô nem aí se ele tiver um choque ou uma parada cardíaca ! Outros “inventam” procedimentos para receber pelo SUS um serviço não prestado. Outros maltratam o paciente quando são conveniados de planos de saúde (que pagam mixaria, reconheço) e não clientes particulares. Certamente não recebem o preço justo. Mas isto não dá autorização para maltratar aquele que procura seus serviços.
Diante disto tudo, não se pode deixar de pensar no antigo “médico de família”, no “jardineiro de confiança”, naquele padeiro do qual talvez sua mãe ou avó foi cliente por décadas. Época em que a amizade e o prazer de bem servir talvez fossem a maior realização do profissional, ao invés de amealhar um lucro rápido, sem se preocupar com o lado humano da relação profissional. Houve época em que as profissões, mais que uma técnica, eram um sacerdócio. Uma arte. Isto não pode morrer.

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