quarta-feira, 18 de março de 2009

Cardápio Fresco

CARDÁPIO FRESCO Estamos em tempo de Quaresma. Prometi a mim mesmo que tentaria (e estou tentando) ser mais paciente, principalmente em casa. Não que eu seja um “cavalo”, ou coisa parecida. Mas reconheço que às vezes sou chato. Não sei se com razão ou não. Às vezes me culpo por isso. Mas vamos ao ponto. O que ocorre é o seguinte: sempre gostei de comer bem. Entenda-se: comer bem, não comer muito. E acho que tenho sorte de ter uma mãe que, além de inúmeras outras qualidades, é ótima cozinheira. Ou era. Explico: Minha mãe descobriu há alguns anos que tem hipertensão. Nada grave não. Apenas tem que se cuidar. E é aí que começa meu dilema. A comida da minha mãe sempre teve o melhor tempero em minha opinião. E ainda poderia ter. Se não fosse uma linha de raciocínio bem cartesiana que a mamãe tem. Como assim ? Vou dizer: - Mamãe acho que é meio anglo-saxã. Depois que descobriu a hipertensão, o médico recomendou que ela diminuísse o sal na comida. Vou deixar claro: DIMINUÍSSE. Adivinha só ? Ela ELIMINOU. Estarei exagerando ? Talvez. Mas aquele temperinho nunca foi o mesmo. Que saudade ! Seria egoísmo meu ? Não sei... Mas já comentei lá em casa: esse negócio de pressão alta é chato porque não adoece só o hipertenso. A família toda vai de carona na dieta. Deve ser assim também com a diabetes, imagino... Já pedi à mamãe: - Bota aí um pouquinho de Sazon ao menos, pô ! Umas ervas... Mas o negócio dela agora é só alho e óleo. Não concordo, acho exagero. Repito: Não acho egoísmo de minha parte não. É que de uns anos prá cá, aliada à descoberta da hipertensão, tanto minha mãe quanto meu pai adotaram a linha que eu chamo de “natureba”. Não que sejam vegetarianos radicais. Longe disso. De uns tempos prá cá é só Margarina light, açúcar mascavo, verdura crua. Muito saudável. Mas pra mim todo dia não dá ! Tem que ter aquele bifão com a gordurinha do lado ao menos umas duas vezes na semana. Será que isso vai matar alguém ? Aliado a isso, criaram o hábito de ler livros sobre nutrição e saúde. Com recomendações que eu acho questionáveis e com as quais não concordo de jeito nenhum. Exemplo: um autor diz que tomar líquidos à refeição faz mal. Pra mim tudo empírico, não dou valor. Mas a mamãe cortou o “suquinho” e o “refri” do almoço. Aí eu fico macho ! - Não pode, meu filho ! O livro do fulano fala que faz mal à digestão. Aí eu respondo: - Ó minha cara de preocupação ! - Santa frescura, mãe ! . Daqui a pouco pergunto: - Ô mãe ?! Cadê o saleiro ? – Escondi. Sei que você vai encher a salada de sal. Respondo: - se chama salada, seria pra ter SAL, não ? Acho que não vou ter um AVC se temperar um pouquinho ! Ela diz: - Cê fala isso porque ainda é novo... não sente nada. Espera daqui uns trinta anos... Sei dessas coisas: que a gente deve se cuidar desde jovem e blá-blá-blá. Mas hoje em dia penso que as pessoas estão ficando meio paranóicas. A culpa em minha opinião é dos meios de comunicação. É um bombardeio de informações desencontradas.... Hoje o brócolis é a oitava maravilha do mundo. Semana que vem descobrem que ele é cancerígeno. Eu no meio disso tudo sou mero espectador. E tô com fome, pô ! “Nem tanto ao mar nem tanto à terra” ... Cuidar da alimentação é importante. Mas não abro mão do meu rodízio de vez em quando. Nem da pizza, nem daquela manteiga da roça. Nem morto ! Quer dizer: só morto ! Quando mamãe tenta me empurrar todos os “lights” e “diets”, me defendo com um exemplo, que é meu avô paterno. Esse é Aroeira ! Esclareço: o vovô tem 92 anos. Vai completar 93 mês que vem. Agora vem o melhor: dos quais fumou mais de 60 anos, fora a cachaça. Aí eu digo pra mamãe: o que mata é frescura, mãe ! O vovô bate um bife com ovo toda noite até hoje. E se tentam impedir, ele emenda com um delicioso: -“Vai pra merda” ! Esse é meu herói ! Abaixo a frescura ! Quero comer o que gosto, enquanto posso...

Um comentário:

  1. Acho também que as pessoas ficaram paranóicas com a saúde... E que mania besta que os pais têm de achar que sempre sabem o que é melhor pra gente, mesmo depois de já termos virado adultos e de conseguir ver [e entender] o mundo com os nossos próprios olhos... Mesmo que algo que a gente faça não seja lá muito recomendável, estamos assumindo o risco, cacete!... A vida é nossa!...

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