domingo, 29 de março de 2009

Por que escrever sobre mim ?

Em meu último texto postado, escrevi sobre a descoberta de um artista. Robbie Williams. Na verdade queria escrever sobre outra coisa. Sobre auto-conhecimento. Mas a vontade estava pouca (e julgo que o auto-conhecimento também, confesso). Então lembrei-me da música "Better Man", cantada pelo Robbie Williams, e comecei a pensar: "interessante como quando nos faltam as palavras, sempre existe uma música para dar vazão ao sentimento". É por isso que eu amo a música. Ela tem uma magia peculiar.
Repare que neste Blog quase sempre ilustro minhas postagens com a letra de uma música ou até mesmo um vídeo. Acredite, não é proposital. Ao menos não o foi em um primeiro momento. Aconteceu naturalmente, assim: ao finalizar um texto, logo me veio uma música à cabeça e resolvi registrar. Então comecei a refletir: - incrível como parece haver uma música para tudo na vida, uma verdadeira trilha sonora ! A música costuma nos remeter a momentos, a pessoas, a datas... E o que mais me encanta: para mim costuma dizer mais que mil palavras. Acho que não é à toa que Santo Agostinho dizia que " quem canta ora duas vezes". É a mais pura verdade. Parece que com a música tudo flui mais naturalmente. Ela como que ilustra o fato, a situação descrita. Dá cores, movimento. Faria a seguinte comparação: se a vida fosse uma tela de um pintor, a música viria para dar movimento aos objetos e personagens contidos na tela. Mas por quê estou dizendo isso ? Porque às vezes me sinto um tolo... Explico: quando resolvi mergulhar neste universo chamado Blog, me preocupei de estar escrevendo textos demasiado confessionais, ensimesmados. Então percebi, visitando outros blogs, que eu não era o único, não era uma exceção. Percebi que muitos gostam de falar de si, e me identifiquei com eles. Percebi isto principalmente nos blogs "Abrigo Madrugada", do Moisés e "Ogrolândia" do Mendel. Percebi que falar de si não é necessariamente uma atitude narcisista ou fechada. Não ! Isto porque todos somos feitos da mesma matéria. Todos temos mais ou menos os mesmos medos, anceios... É por isto (concluí), que quando ouço uma música ou leio um texto, me identifico ali. Me vejo em um personagem. É porque as mesmas dúvidas e anseios que possam me atordoar vêm atordoando os seres humanos há séculos. A minha insegurança não é exclusiva. As minhas dores não são exclusivas a mim. Agora percebo que egoísmo seria se eu assim o pensasse. Por isto está decidido: quando tiver vontade, escreverei sobre mim. Escreverei para mim.
Mas voltando à música: fiquei realmente mexido com "Better Man". Não a conhecia a canção até mais ou menos uma semana atrás. Principalmente estas duas estrofes representaram bastante pra mim:
"Give me endless summer
Lord I fear the cold
Feel I'm getting old
Before my time" e
"As my soul heals the shame
I will grow through this pain
Lord I'm doing all I can
To be a better man"
Acho que todo homem (escrevi homem com minúscula porque quero me referir a nós do sexo masculino - para mim o mais frágil, diga-se de passagem) passa pelos seus desertos e momentos de obscuridão na vida. E hoje vejo que isto não é de todo ruim. Faz parte do processo. Muitas vezes pensei comigo mesmo "Feel I'm getting old before my time", em momentos de vazio espiritual ou de dúvida ou sentimento de insatisfação com o rumo que sua vida está tomando. E é bom que seja assim. Hoje percebi que costuma ficar preocupante quando você fica indiferente às suas dores. Aí sim é preocupante ! Porque então a esperança está enfraquecida. Você está anestesiado. Imagino que enquanto há dor, há luta. Você ainda se importa, combate. A ausência de dor já seria a entrega, o abandono nas mãos do "destino" (como se não fóssemos nós os responsáveis por ele). Pode reparar: todo depressivo tem um ar apático. Por quê ? Porque já não "dói" mais. Tanto faz como tanto fez. Ele encara a vida e chora. Encara a morte.... e sorri. Parece querer não correr, mas se abandonar. Como um veleiro sem rumo.
A dor nos dá a sensação de que estamos vivos. E é por isso que eu abomino esta auto-ajuda dos dias de hoje que propõe uma felicidade ascética. Isto é ridículo ! Isto está gerando muita gente cheia de nóias, acreditando que é possível viver esta vida como se estivesse "a passeio". Não, não, não ! Prefiro ler um poeta do Romantismo, com todas as suas dores de amor ou do Realismo, com aquele seu encarar a existência melancólico, do que escutar os "você pode", "você é a quintessência do universo", "seja um sucesso" e outra baboseiras que não dizem nada do ser-humano que eu sou. Vão se catar esses autores ! Que me desculpem, mas sou de carne e osso. Cheio de imperfeições sim. E sem nenhuma pretensão de me tornar o super-homem proposto por Nietszche, mas acreditando que posso vir a ser um pouco melhorzinho sim ! Com a graça de Deus. "LORD I'M DOING ALL I CAN TO BE A BETTER MAN". Mesmo que isso signifique estar perdido e não ter o controle, as rédeas do meu destino (o que pra mim é outra baboseira que a auto-ajuda nos incutiu: o auto-controle absoluto). Não somos máquinas. Somos homens. Que continue assim. Aprecio minhas imperfeições. Minha insegurança e insatisfação. Isto é que é a vida, não estamos em uma novela da tv.

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