Fiquei um tempo ausente do Blog. Em princípio era preguiça mesmo. Não era branco não. Mas depois fiquei meio reflexivo estes últimos dias por causa de um fato que me ocorreu. Desagradável. Mas infelizmente já corriqueiro em qualquer cidade do Brasil. Serei direto: fui assaltado. Domingo, por volta das 20:50. Chegando em casa. Já havia me acontecido antes, duas vezes. Em uma eu reagi, corri atrás do cara que me “bateu” a carteira. Besteira. Pensando bem, nunca reagiria de novo.
Mas vamos aos fatos: Como dizia, voltava à pé para casa no Domingo, por volta das 20:50. Isto apesar de todas as recomendações de minha mãe e do meu pai. Não dava muita ligança e pensava: - “Bobagem, nunca vou ser surpreendido. É só eu andar por ruas mais movimentadas, iluminadas...”. Pois é: Domingo pude comprovar que ninguém está imune. Oxalá agora eu aprenda e deixe de ser tão desleixado.
De novo aos fatos: quando dobrei a esquina de casa, já em minha rua, vi um jovem que andava pouco à minha frente. Ao me ver ele parou e perguntou-me as horas. Respondi que não tinha (tentando desconversar, pois já previ o que estava por vir). Então acelerei o passo, já prevendo o pior. Estava a um quarteirão de casa e inocentemente pensei: “se eu apertar o passo acho que dá pra entrar rapidinho e despistá-lo”. Mas fui surpreendido: mal virei as costas, caminhei uns cinco passos e o cara anunciou o assalto:
- “Pode parar aí que é um assalto !”
Putz ! (pensei) – a um quarteirão de casa, que azar dos diabos ! Me virei de frente pra ele e percebi que um carro passava na rua naquele momento. Pensei em pular na frente do carro mas logo depois desisti. Afinal, se ele tivesse armado poderia me "queimar" ali mesmo. O cara falou assim: - "Passa a carteira e esvazia os bolso" !
Eu, não sei por que, tentei tranquilizá-lo e falei: - Fica calmo que eu vou te passar tudo...
Tirei a carteira e o celular. Ele disse: - Joga aí !
Joguei no chão. Então percebi que ele era meio amador, pois ele abaixou-se para catar a carteira e o celular e ainda umas moedinhas que tinham pulado da carteira. Pensei na hora: "Podia dar uma bicuda na cara dele, mas ele falou que tá armado"... Depois sem pensar falei:
- Cê podia me dar pelo menos os documentos... dá trabalho pra tirar ... Ele retrucou:
-Pode deixar... vou jogar sua carteira alí na esquina - e apontou. Depois retrucou:
- Por que você não me respondeu as horas?... Quando perguntar alguma coisa, você deve responder... Eu disse (acho que sem pensar):
- Percebi que você ia me roubar, uai ! ...
- Só por isso vou querer o tênis também ! – e apontando pro meu tênis pediu que eu tirasse. Tirei e fiquei só de meia. Ele disse pra mim:
- Vai andando pra lá e não olha pra trás não... - e dobrou a esquina correndo. Assim que ele dobrou a esquina, corri pra casa e fui logo ligando 190. Até vacilei antes de ligar, mas pensei: “já tomei prejuízo mesmo... nem que for só pra entrar pras estatísticas...” E qual não foi minha surpresa, quando em cerca de cinco minutos os PMs tocaram o interfone lá de casa ! A vizinha da frente, curiosa com a movimentação, saiu na janela:
- Que aconteceu meu filho ?
- Fui roubado agora... quase na porta de casa...
- Quer entrar, tomar um copo d’água ? (ela perguntou).
– Não, tô acostumado... - respondi. Que nada ! Tudo bem que eu tava tranquilo, mas acostumar agente nunca acostuma. Passaram-se mais uns cinco minutos e apareceu outra viatura com o menino detido. Menino ? (vocês podem perguntar). Era menor de idade, segundo o policial.
– E como vocês o pegaram ? – perguntei ao PM
– Nos chamaram pelo rádio. Como agente tava aqui por perto, atendemos a ocorrência. Ao nos depararmos com o rapaz em atitude suspeita, demos batida e achamos ele com esse celular, a carteira e o tênis... são seus ?
– São sim (respondi).
- Fique aqui e aguarde a nossa ligação – disse o policial – ligaremos para você mais tarde para reconhecer o material apreendido...
Lá pelas 23:30 me ligaram e fui eu até a delegacia, no Centro.
Quando cheguei, a primeira pessoa que vi foi uma moça jovem, loira. Sentada na porta, ela chorava.... Ela virou-se para um policial e perguntou:
- "Esse aí que é a vítima ?" - Pensei se tratar de um parente do tal, uma irmã ... Quando o policial perguntou se era parente, ela disse que era namorada do rapaz.
– Quantos anos você tem ?! – perguntou o policial – Ela disse ter 26 anos. O PM virou-se pra mim e pra ela e perguntou (em tom irônico):
- "O que que a moça tá fazendo com um garoto de 14 anos ?" Pegou pra criar ? Ela ficou calada... Uma moça de 26 anos dizer-se namorada de um garoto de 14 ... muito estranho ! Isto mesmo: segundo os documentos encontrados com o garoto (se fossem dele realmente) revelava que ele teria apenas 14 anos. Eu duvido. Era mais alto que eu, bem magro. A moça disse que ele não tinha família e morava na cidade sozinho. Tá bom ! Conversando com ela e o policial, ela nos revelou que ele não tinha residência fixa e tinha somente uma tia de parente na cidade. A família seria de Monte Azul. Muito estranho mesmo. Pra mim ele devia estar sendo orientado por um maior. Agora virou moda usar menores de idade pra cometer delitos... Duvido nada a moça é quem orientou o menino. Dizia ela estar surpresa com o fato e que não imaginava que ele seria capaz daquilo.
O nome dele eu gravei: Rafael Giacomi ( não preciso nem dizer os trocadilhos que rolaram entre o escrivão e os PMs). Eu também não pude deixar de rir... apesar da situação. Rafael Giacomi aos 14 anos.... pois é... Pouco depois me chega o garoto trazido por dois policiais. Entrou na delegacia e ficou me encarando por alguns segundos. – Pior que vai estar na rua amanhâ – disse o policial. Ele me puxou no canto e disse: - "Amanhã o promotor vai ouvi-lo e liberá-lo". Agente não pode fazer mais nada... Nisto, entra um sujeito todo sujo de poeira na delegacia, acompanhado de dois policiais. Era um mototaxista que havia acabado de ser assaltado. A moto foi recuperada no instante do assalto. Uma viatura passava pelo local. É... a noite tava quente... E o policial comentou: - essa noite já é o quinto caso. Em todos os bandidos se deram mal... Quem dera fosse sempre assim... 5 x 0 pra polícia ! Depois, fui reconhecer meus pertences e registrar o B. O. Cheguei em casa quase à uma da manhã. Parabenizei os policiais e comentei: - "os verdadeiros heróis são vocês... enquanto os homens lá em Brasília fazem farra com as passagens, vocês tem que se virar pra fazer o serviço"...
É, pelo menos dessa vez o 190 funcionou e bem. Mas infelizmente esta é uma história que vai se repetir ainda muitas vezes. Deu saudade do tempo em que voltava pra casa à pé, de madrugada, das festinhas. Depois disso concluí que não dá pra vacilar. Sempre gostei de andar à pé e nunca liguei pra segurança. Agora vou ter que repensar meus hábitos. É Brasil, o negócio tá feio e só não vê quem não quer. Nem culpo o menor não... com tanta autoridade dando mau exemplo, falar o quê ? É só rezar pra chegar em casa vivo. Uma simples caminhada pelo seu bairro agora pode virar um safári. Sei que vou andar muito tempo olhando os quatro cantos das esquinas. Sempre critique quem é noiado com segurança. Sempre andei qualquer horário, por qualquer lugar... Já era !