quarta-feira, 29 de abril de 2009

Convivendo com o Agente Smith II

Meu pai no caminho de casa: - Você precisa definir seu futuro, Mr. Anderson... (não é bem assim, mas chega perto). E o agente Smith ataca novamente ! tcharam ! ... - Vamos conversar amistosamente ... - ele diz.
- Tá bom ! Conversa fiada de novo, pai ? (pergunto eu) . - Não preciso de salvador, muito menos com esta postura nazista (foi assim mesmo que eu disse). Com esta sua postura de messias, eu não vou dialogar nunca (disse pro meu pai). - Desça do seu Monte Olimpo e venha conversar aqui em baixo, Senhor “o segredo da vida é ...”. O segredo da vida é não dar pitaco na vida dos outros (digo pra ele). Então ele vem com aquele discurso do “caminho mais fácil”: - Repare bem, meu filho: o filho de Dr. Fulano seguiu a medicina, se Dr. Fulano fosse comerciante, poderia ensinar ao filho comerciar, mas como é médico, seu filho seguiu o caminho natural. Aí eu digo: - Isto quer dizer que eu tenho que me tornar contador ... O senhor tá assistindo muita novela... o sistema de castas já acabou por lá e por aqui nunca existiu. Nesse momento me sentia um filhote de pato, que há sei lá quantos milhões de estações sempre migram no inverno...
Mas veja bem – diz o meu pai – se já existe um caminho certo, pra que se aventurar ? Eu digo: para sentir que eu tô vivo, caramba ! Pra fazer do meu jeito ! Então digo: - se homens como Edson, da Vinci e Santos Dumont pensassem como o Senhor, não teríamos computador, avião e medicina. Pra que se enterrar num laboratório horas a fio ? Afinal, herdaram certa quantia, ninguém tava nem aí pro trabalho deles ... Poderiam prosseguir com sua vida bem “normalzinha”. Não ler “livros perigosos”, comer comidas gordurosas, fazer viagens perigosas. Teriam uma vida mais pacata, sem questionamentos, se alimentando de alimentos diet e sem gorduras trans e morrer com um aspecto bem saudável para que todos disessem em seu velório: - Parece que ele tá dormindo ! ... Ah, vai te catar ! Vou seguir outra profissão, nem que passe fome. Não nasci com chip, não vou seguir a programação do Agente Smith. Sinto muito. Ponte que caiu ! Imagina só: você já é obrigado a conviver 8 horas com seu pai num escritório, chega em casa, o cara ao invés de falar de futebol, novela, o raio que o parta, fala do quê ? Trabalho ! E além disso propõe: - Por que você não dá uma estudadinha naquela apostila ? Aí eu ironizo: - Mas claro! Eu saí de casa antes das sete da manhã, retorno 12 horas depois , e o que eu quereria fazer ? Jogar bola ? Assitir um filme ? Não... dar uma estudada num assunto que me desinteressa muito, claro ! Só para satisfazê-lo meesxxstre !
Vai ser sem-noção assim lá na Terra do Nunca, meu São Capitão Gancho ! . Só pra dá um exemplo: ele é daqueles que você convida pra comer uma pizza fora e ele emenda: - Pra quê ? Tem comida em casa ! Deve tá com o chip estragado, só pode. Seguindo esta linha de raciocínio, pra que dar flores à namorada ? Vão murchar... Pra quê viajar, se você pode conhecer tudo nos livros (juro que ele já falou isto) – como se fosse a mesma coisa ler sobre a Torre Eiffel e poder tocá-la. Não vou nem discutir...
Se o Jô fizesse uma entrevista com o workaholic do meu pai sairia mais ou menos isto: - Qual seu livro predileto? -Qualquer um de auto-ajuda, expansão do potencial pessoal e coisa similar. - E nas artes plásticas, qual o seu quadro predileto ? - O quadro de avisos !? - Uma viagem ? - Um dia eu tomei três chops ( o que é um absurdo, porque eu nunca passo de um, pois podem pensar que sou alcoólatra) e foi uma viagem... - Qual o seu hobby ? - Trabalhar. Eu descanso carregando lenha ! (ele costuma falar isto também). Como argumentar com uma pessoa assim que se divertir não é pecado, que o ser humano precisa de mais do que um teto, comida e plano de saúde ? Mas paciência. Ainda faço ele tomar aquela pílula vermelha ....

terça-feira, 28 de abril de 2009

Gripe do Porco

" Ao primeiro espirro corte a corda..."
Gripe do frango, gripe suína, crise financeira internacional... Com certeza todos os governos já abriram contagem regressiva para o ano de 2010. O mundo globalizado é mesmo uma maravilha ! Uma epidemia que surge no México pode me atingir aqui no Brasil em 24 horas. Lindo ! Fantástico ! Mais interessante ainda é ver os asiáticos (principalmente chineses e japoneses) desfilando com suas máscaras cirúrgicas. Como que um exército de hipocondríacos. Precisa tanto ?
Na televisão, uma repórter questiona um médico epidemiologista: - “Estas máscaras adiantam Doutor” ? Tradução: - “Posso correr e comprar a minha” ? O Doutor bem impreciso responde: - “É, ameniza um pouco”... . O mais interessante de tudo isso são os noticiários... São de um cinismo... Fátima Bernardes diz que não é pra gente ficar alarmado; mas para refrescar nossa memória, informa que a “gripe espanhola”, no longínquo ano de 1918 matara mais de 20 milhões de pessoas. Ótimo (penso comigo), agora estou bem mais tranqüilo...
O mesmo doutor da entrevista explica que o “super-vírus” - como está sendo chamado - é resultado da combinação entre genes de vírus de origem aviária, humana e suína. Conclusão: o Homem sempre é o responsável pelas suas calamidades. Na natureza, dificilmente um vírus de origem suína poderia se combinar com um de origem aviária e ainda outro de origem humana. Somente nos criatórios de frangos e porcos para abate ele (o vírus) teria esta oportunidade.
Mas o que mais me preocupa não é o surgimento do vírus propriamente. Estou agora imaginando a “farra” que ele fará quando atingir populações com baixo índice de desenvolvimento e constantemente assoladas pela subnutrição ( como ocorre em muitos países da África). Aí sim pode se desenhar uma tragédia. Não bastasse a vergonha da Aids, das guerras civis e étnicas, uma pandemia poderia varrer boa parte da população africana do mapa.
São em momentos como esse que se questiona que falta não fazem os trilhões de dólares gastos em armamentos, anualmente, pelo mundo afora. O que não representariam em termos de desenvolvimento de novas vacinas para gripe e planos de prevenção ? No Brasil até que estamos um passo à frente, com a campanha de vacinação de idosos. Mas é pouco. As crianças ainda estão muito desprotegidas pela subnutrição e o nosso péssimo saneamento básico.
Preocupante também é que a tal gripe sirva como cortina de fumaça para encobrir a farra com as passagens aéreas dos deputados federais. Se não já encobriu...
No horóscopo chinês o porco representa um ano “propício para os negócios e para as extravagâncias”. O último ano do porco foi 2007. É... se 2007 foi o ano do porco, este deve ser o ano do “espírito de porco”, desculpando o trocadilho. Grande e arrogante homo-sapiens: já foi à Lua, mas treme diante de um serzinho unicelular, de poucos pares de genes ! Estamos todos nós (gênero humano) em uma mesma barca. Espero que ela não esteja furada. E salve-se quem puder !

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Susan quem ?

Susan quem? . Susan Boyle ! Esta talvez tenha sido a personagem do ano. Uma mulher simples, mas surpreendente em muitos aspectos. Escocesa do pequeno vilarejo de Blackburn, West Lothian na Escócia. Passou despercebida por longos 47 anos, e de repente, como um vulcão adormecido, entra em erupção:
“I dreamed a dream in time gone by
When hopes were high and life worth living,
I dreamed that love would never die
I dreamed that God would be forgiving ...”
Quando me falaram do tal vídeo do “youtube”, que já ultrapassava os 40 milhões de acessos, fiquei curioso e fui acessar. As pessoas me haviam prevenido do que se tratava. Mas para minha surpresa, o vídeo traduzia algo muito maior.
Inocentemente pensava eu que o vídeo tratava de pré-conceito e superação. Mas há uma lição muito maior naquelas imagens: a extrema humildade e simplicidade que somente corações muito elevados conseguem atingir. Assim que Susan Boyle adentra o teatro, percebe-se o extremo cinismo nas expressões, vindo de pessoas acostumadas a julgar somente pela aparência. Acostumadas a ridicularizar, quando outros demonstram uma inocência quase infantil. Daquela inocência que não dissimula nada e por isto mesmo nos incomoda e desconserta. Perguntou o jurado: - “Qual seu sonho Susan ?” , ao que ela responde decididamente: - “Ser cantora profissional, ora!”. Toda a platéia e os jurados riem, talvez pensando: - “ Aí está mais um daqueles candidatos excêntricos e exibicionistas”... O jurado insiste em tom irônico: - “Mas você já tem 47 anos...” Juntaram-se aí dois pré-conceitos representativos dos dias de hoje: quanto à idade e quanto à aparência.
Contudo Susan emposta a voz e já nos primeiros versos surpreende a todos. Alguns na platéia se colocam de pé para aplaudir, diante de magnífica voz. Uma garota aparece no vídeo boquiaberta como se quisesse dizer: - “Mas como pode ser ?”. As expressões de surpresa nos rostos pareciam traduzir outra questão: Como alguém tão "esteticamente inadequado" pode cantar e encantar a todos ? E a resposta parece ser óbvia: porque as pessoas não se resumem a rostos e corpos bonitos. Porque são muito mais que isto. Felizmente ! Ocorre que o mundo há muito associou a virtude com à beleza plástica (um pouco de herança grego-romana talvez – “mens sana in corpore sano”). Isto está muito arraigado em nós. Já se inicia com os contos de fada que escutamos na infância: a maldade está sempre na bruxa velha e feia, que mora em um canto sombrio da floresta. Quando esta mesma bruxa quer amaldiçoar um príncipe, o transforma em sapo, que então é apresentado como representação do feio e repulsivo.
Outra coisa pra mim muito representativa no vídeo, que talvez passe despercebida da maioria é o fato de Susan Boyle, assim que termina de cantar, começa a deixar o palco. Interpreto como demonstração de humildade por parte dela, não de resignação. Talvez tão acostumada a levar “nãos”, ela tenha pensado: - Vou lá mostrar o que sei, mesmo que não me aprovem. Vou abrir minha boca e cantar o melhor que posso... Ela o fez, e depois começou a deixar o palco. Ao que os jurados gritam por ela e pedem que ela retorne para escutar o veredicto deles. Não é que Susan não acreditasse em si mesma. É que apesar de ser consciente do seu talento, ela estava tão acostumada a ser julgada pela aparência, que para ela não importava ser aprovada ou não. A ela importava apenas mostrar a todos ali o que era capaz de fazer. Era como se disesse “ arrebentei a boca do balão, agora vou pra casa realizada”. A única opinião que lhe importava era a que tinha sobre si mesma. Tão segura de si ...
O ano de 2009 parece querer mesmo nos surpreender. Um atleta “gordo” para os padrões do futebol - o Fenômeno - entorta zagueiros e decide partidas. Uma “coroa” considerada feia e de comportamento infantil encanta platéias. Estou feliz com isto. Em uma sociedade em que aos 40 você está “muito velho para o emprego” - justamente quando se acumula maior experiência - , algumas vagas exigem “boa aparência”, e o padrão de beleza são loiras anoréxicas, levamos um tapa na cara. E acho tudo muito positivo. Queira Deus que seja a primazia da inteligência sobre a aparência. Vejamos: escrevo este texto no dia 27 de abril (uma segunda-feira). Portanto um dia após um tal “atleta-gordo-acabado-pro-futebol” ter feito dois gols e liqüidado o jogo em favor do Corinthians. “Quem dera meu time tivesse um gordo desses” - pensei - logo após meu Atlético tomar uma goleada daquele time que eu não vou nem pronunciar...
No entanto sou realista. Ou pessimista, não sei. Logo este episódio vai ser esquecido. A ditadura do padrão estético ainda imperará por muito tempo. Talvez o ocorrido sirva de alerta para os arrogantes, os “vips” de toda espécie, os “high-society”, a “gente bonita e bem-sucedida”. Todo tipo de celebridade... Alertas não mudam comportamentos coletivos. Mas algo é inegável: esta semana foi das "feras". O Shrek está por cima !
I Will Talk And Hollywood Listen (tradução)
Robbie Williams Composição: Desconhecido
Eu Falarei e Hollywood Ouvirá
Eu não seria assim tão sozinho
Se eles soubessem meu nome em cada lar
Kevin Spacey me chamaria no telefone
Mas eu estaria muito ocupado
Voltado aos cinco e à moeda de dez centavos velhos
Cameron Diaz me dá um autografo
Eu faço você sorrir a todo tempo
E sua conversa completaria a minha
Eu falarei e Hollywood me ouvirá
Veja-os se curvarem a cada palavra minha
Sr.Spielberg olhe o que você está perdendo
Não que pareça um absurdo se curvar a cada palavra minha
Comprar os direitos do meu livro
E viver em um sítio do que o escritório de caixa fez exame
Eu visitarei o estúdio
E eles me chamarão de seu salvador
Todos os povos virão
Celebridades vivem na lua
Mas eu voltarei em Junho
Para promover a “A Seqüência”
Eu falarei e Hollywood me ouvirá
Veja-os se curvarem a cada palavra minha
Sr.Spielberg olhe o que você está perdendo
Não que pareça um absurdo se curvar a cada palavra minha

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Convivendo com o Agente Smith

O mundo do século XXI está pior ou melhor ? De que adianta ter um remédio para o câncer, se não posso comprá-lo ? De que adianta uma viagem através do Atlântico durar algumas horas, se não tenho dinheiro para fazê-la ? De que adianta poder votar, se não tenho opções ? Esta tem sido a minha conversa com o meu pai ultimamente. Quando volto do trabalho com ele, no carro, às vezes começo a filosofar... A conversa começa amistosa, mas depois vai esquentando...
Isto tem a ver com o último texto postado também. Grande parte talvez da dificuldade que a gente tem de se aceitar tem a ver com querer corresponder à expectativa do outro. Demorou, mas descobri que é bobagem. Quando era menino, ouvia meu pai, não concordava e ficava calado. Mas pensava: - "ainda vou te provar que estou certo". Quando cresci, ingenuamente pensei que discutindo com ele, argumentando, poderia "retoricamente" convencê-lo de que estava errado sobre alguns aspectos. Bobeira ! Certa está minha mãe: - " ninguém muda ninguém".
Meu pai é uma pessoa muito pragmática. Diria que é a antítese do poeta, do sonhador. Antes eu ficava irritado com o que classificava nele como "alienação". Vou dar um exemplo: quando estamos vendo o noticiário e surge alguma notícia sobre Cuba ele diz: - é por isso que eu gosto da democracia, do Brasil: porque temos liberdade... Eu retruco: - democracia pra mim é ter escola e hospital decente, e isto Cuba tem melhor que a gente. Aí ele diz: - mas lá cê não pode votar... o Fidel tá no poder há 50 anos. Então eu digo: - "grandes porcaria" votar ! Esta é a grande mentira do sistema. Você escolhe entre algumas "cartas marcadas" e acha que é mais livre que o povo cubano. Só que lá o índice de analfabetismo é 1%. E o daqui ? E vai por aí ...
Ele (meu pai) é uma pessoa muito "stabilishment". Se fosse um personagem de "Matrix", ele seria o agente Smith sem dúvida alguma. Eu sempre falo para ele: - o senhor tinha que nascer americano ! O senhor acredita mesmo nesta estorinha pra boi dormir da "liberdade de iniciativa", e "igualdade de competir" ? Vai perguntar pra uma "aviãozinho" do morro se ele tem a mesma oportunidade do filho de classe média pra competir ... Ele diz: - eu nasci pobre e construí alguma coisa... Eu retruco: - tudo bem, mas daí você dizer que o sistema é lindo e não há alternativa melhor e que se um garoto se torna bandido é porque não "lutou" é covardia. Que expectativa um garoto desse tem ?.... Fazer uma faculdade pra ele é o mesmo que o homem ir à Marte !
Não tem jeito. Depois ele insinua que filosofar estas coisas é coisa de revoltado, que não leva a lugar algum, não paga as contas... que se você não tem como mudar é perca de tempo discutir. E sempre encerra o papo com coisa mais ou menos assim: - agente tem é de trabalhar e preocupar com a nossa vida... Aí eu digo, em tom irônico: - quero ver quando um garoto desses, chapado, no sinal, te enfiar uma arma na cabeça o senhor vir dizer: - cê não pode me assaltar não ! eu pago meus impostos, trabalho, sou bom cidadão. Aí eu quero ver seu sistema capitalista perfeito salvar a sua pele. Nessa hora sou mais Cuba. É aí que o capitalismo perde a moral. Você é livre: pra dormir em fila do posto de saúde, pra ser assaltado, pra ser mal-atendido, não ter saneamento básico. Não que o socialismo seja solução. Mas o capitalismo não pode ser a única via. Ser o único não é ser o melhor. Que parâmetro é esse ?
Aonde eu quero chegar com tudo isso ? É o seguinte: descobri porque eu e o meu pai não nos acertamos. Porque falamos idiomas diferentes. Antigamente ficava chateado com isso. Hoje penso assim: - Paciência ! Se ele quer continuar sendo o agente Smith de Matrix problema o dele ! Eu quero pensar o mundo. Não compro essa vidinha perfeita pequeno-burguesa nem a pau !

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Loucura Moderna

Hoje acordei como sempre por volta das seis e quinze.Enquanto minha mãe passava o café, liguei a televisão para acompanhar o noticiário. O "Bom Dia Brasil", mais precisamente. Mal se passaram dez minutos, e eis que, entre uma notícia futebolística e outra, o locutor me anuncia: "- empresária gaúcha mata irmã, sobrinha e o marido". Motivo: estava falida, liqüidada. E o pior ainda estava por vir: quando a repórter perguntou ao delegado se ela estava presa, o agente respondeu: - Não. Está internada em uma clínica... Não está em condições emocionais de responder. Pensei mesmo assim na hora: - Poxa ! Queria ver se fosse pobre ! Tava presa em flagrante por triplo homicídio, triplamente qualificado. E desde quando problemas financeiros agora são motivos para se matar três membros da família ? E o delegado ainda põe "panos quentes" ? Que eu saiba a ele não cabe o papel de julgar. Nem a favor nem contra. Mas é a loucura do mundo de hoje. Assassinos seriais, sem motivo aparente, são moda agora.
Já "prática consolidada" nos EUA, nosso "irmão mais evoluído", tomara que não desembarque aqui em terras tupiniquins. Em minha opinião ainda há muito a desvendar neste caso. Acompanharei nos próximos dias. Não quero crer que uma motivação tão fútil tenha causado a morte de três pessoas. A acusada deixou umas dez páginas de cartas explicando a sua motivação: segundo ela, não queria deixar o marido, a irmã e a sobrinha sofrerem por conta das dificuldades financeiras ...?! Me parece muito estranho. De qualquer forma, do jeito que as coisas andam neste mundão de hoje, tudo é possível.
O que me recuso a admitir é que esses assassinatos em série se multipliquem mundo afora. Já pensei sobre isso. Parece haver uma necessidade de "catarse". Creio que talvez isto ocorra porque mão há uma "válvula de escape" para os sentimentos de frustração. Não há alguém para dizer "tudo bem, estou aqui". O cidadão comum tem que engolir tantos sapos, enfrentar jornadas de trabalho estressantes, o trânsito, o mau-humor dos colegas e ainda é obrigado a chegar ao final do dia sorrindo. Aí um belo dia, parece que entra em pane: - hoje foi a gota d'água, vou pegar um rifle e matar algumas pessoas desavisadas ! Na verdade, parece que como a sua frustração e raiva não tem um alvo definido (está diluído em toda sociedade, no "sistema" ), ele "desconta no primeiro que estiver à frente". E que Deus nos acuda !

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Be-a-bá do Rock

Domingo (portanto ontem) me lembrei de uma banda que não escutava há muito tempo. Muito tempo mesmo. O Rush. Banda canadense com quase quarenta anos de estrada, ela já foi minha preferida durante a infância e pré-adolescência. Interessante esse negócio da música. Parece que o gosto da gente é cíclico. Já havia escrito algo mais ou menos a respeito antes. Acontece que pelo Rush tenho um carinho especial. Foi ouvindo Rush que comecei a apreciar Rock’n’Roll, influenciado por meu Tio Robson.
A história de como descobri o Rush é que não é nada interessante. Não tem nada de especial, pelo contrário. Para os aficcionados pelo Rock’n’Roll e pela banda, talvez seja até uma heresia. Mas acho que minha “descoberta do Rush” talvez seja semelhante à de muitos fãs brasileiros. Você já deve estar matando a charada. Sim! Foi através do seriado “MacGyver”, mais conhecido como “Profissão Perigo” no Brasil. Aos primeiros acordes da introdução da música “Tom Sawyer” eu, ainda bem garoto, me arrepiava. Tondon-don-don-don ! Tondon-don-don-don .... The river !
Então um belo dia, estava eu na casa da minha avó materna. Como de costume, meu tio no quarto dele, em meio à uma coleção de vinil que tinha mais de 600 discos (descobri mais tarde). Era o hobby dele, passava o fim-de-semana limpando os vinis com uma flanelinha, catalogando. E ouvindo música, claro ! Foi então que ouvi aqueles acordes iniciais de “Tom Sawyer” e exclamei: - a música do MacGyver ! – Tio, de quem é essa música ? – É do Rush ! – Grava pra mim ? – É só você me trazer uma fita semana que vem que eu gravo. Fala com sua mãe. –Tá bom !
Na semana seguinte tava lá. Levei a fita, e enquanto ele gravava, aproveitou para ir me “catequizando”. Até então, não conhecia muito das bandas de rock’n’roll. O que conhecia de música era do rádio. Do jeito que os meninos da minha geração podiam fazer: agente ficava escutando as FMs. Deixava aquela fita preparada para gravar: apertava PAUSE/REC/PLAY. Quando passava uma música que você achava legal, liberava o PAUSE. Era a forma de um garoto de oito, nove anos consumir música. Não tinha internet pra baixar. Nem mesada. Era no radinho mesmo. Coisa precaríssima e às vezes até ridícula. Junto com a música agente cansava de (quase sempre) gravar também o locutor. Tosco: - “ e esse foi o “Ruchi”, com “Tom Saier” ”. Era assim mesmo que os locutores diziam. Inglês de “crasse”. Acho que era Rádio 98 aqui em Montes Claros. A primeira a ter programa só de rock’n’roll.
Depois fui conhecendo mais. Tio Robson gravou outras fitas. Do Rush, Led Zeppellin, Pink Floyd. Eu escutava até gastar. Mas o Rush sempre teve lugar especial no meu coração. Se fosse uma disciplina, a música do Rush poderia se chamar “Introdução ao Rock’n’Roll I”. E o melhor: rock progressivo, que prima por acordes elaborados, músicas longuíssimas, trabalhadas. Muita gente acha chato, massante. Principalmente quem é mais chegado ao punk, que representa a simplicidade, três acordes e pronto. Mas pra mim o rock progressivo é arte pura. É a música clássica do século XX. Não me importo de escutar um solo de guitarra de dois minutos. Você viaja. Além disso o rock progressivo trouxe muitos elementos para o rock. Enriqueceu o estilo. Começou com os Beatles, depois o Led Zeppellin, trazendo instrumentos indianos exóticos, depois veio a era dos sintetizadores. Mas isto é uma outra estória... Viva o Rush! Valeu Tio Robson !!!!
The Trees(tradução)
Rush Composição: Indisponível
As Árvores
Há inquietação na floresta
Há problema com as árvores
Pois os bordos querem mais luz do sol
E os carvalhos ignoram seus argumentos.
O problema com os bordos,
(e eles estão totalmente convencidos que estão certos)
Eles dizem que os carvalhos são muito altos
E eles capturam toda a luz.
Mas os carvalhos não podem evitar seus sentimentos
Se eles gostam do jeito que são feitos.
E eles se perguntam por que os bordos
Não podem ser felizes em suas sombras.
Há problema na floresta,
E as criaturas todas fugiram,
Enquanto os bordos gritam “Opressão”
E os carvalhos, apenas mexem suas cabeças
Então os bordos formaram um sindicato
E exigiram direitos iguais.
“Os carvalhos são muito gananciosos;
Nós os faremos nos dar luz.”
Agora não há mais opressão dos carvalhos,
Pois aprovaram uma lei nobre ,
E as árvores são mantidas todas iguais
Por machadinhos, machados e serrotes.

sábado, 11 de abril de 2009

Espera

Durante estes dias quero continuar retirado de mim mesmo. - Afinal, o que são os meus sofrimentos, as minhas "questões existenciais" perto da reflexão da Paixão do Senhor ? (penso eu). Pobre "homenzinho", é o que sou. Nós sofremos para compreender a existência, esquadrinhá-la com a nossa inteligência limitada. E nos deparamos com esta figura: Jesus. O total abandono, o desprendimento. - "És tu o Rei dos judeus" ? - "Tu o dizes....". Serenidade diante da adversidade. Como alcançar tal coisa, se este "homenzinho" costuma perder a paz à menor contrariedade ?
Entenda-se: retirar-se de si mesmo não quer dizer alienar-se. É deixar de olhar tanto para dentro e procurar olhar mais "em torno". Senão, como Narciso, pode-se ficar enfeitiçado pela própria figura. Acho que o grande problema é tomar o mundo "a partir de si". Mas pode-se questionar: - "Há outra forma de se vislumbrar o mundo ?". Sim: - "De cima". Mas quem já esteve lá, a não ser o que desceu de lá ?
Ei, mestre ! Não me deixe sozinho não ! Já tô de saco cheio de mim mesmo. Sou o meu pior conselheiro. Como saber se estou certo, se tudo o que se escuta são ecos do seu próprio pensamento ? Pena que até hoje o Senhor não foi compreendido. O desejo de domínio é que estraga tudo. A ansiedade. O desprendimento liberta. Aí vem alguém e diz: - Não se pode viver sem trabalhar... (como se se despojar fosse sinônimo de vadiagem, alienação). Os pensadores cristãos costumam dizer que até um mendigo pode ser mais apegado que o maior dos milionários. Apego não é possuir muitas coisas. É amar o Ter mais do que o Ser. Mesmo que seja o único par de sapatos. A gente vê isso por aí. Até na "literatura da moda" contemporânea: o personagem Smiegel, de "Senhor dos Anéis", que para possuir o "my precious", se "enterra" em uma caverna. Deixa de viver para si para viver para o objeto o precioso anel.
O mundo hoje tem muito disso. Escravos do poder, da beleza, da auto-imagem, da opinião alheia... Sei que é estupidez, mas o sistema é aprisionante. Então inventam as "fórmulas": para o sucesso, pra ser feliz, pra "agarrar um namorado ou namorada". E o alvo sempre está no externo. No aquém. É por isto que poucos compreendem bem o cristianismo. Não atentam para a mensagem. "Amai ao próximo como a ti mesmo"... se não me amar, nunca poderei amar outrem.
E a ciranda da vaidade nos diz hoje: - "Nunca estejam satisfeitos, queiram sempre mais..." Não tem botox que chegue. Enquanto eu não me aceitar, como posso amar o outro ? Se aceitar não quer dizer " sou assim mesmo e pronto e quem quiser que se ajeite". Quer dizer: este sou eu, com suas misérias e jardins também. Perfeição só em anúncio de xampu e creme dental. Quem convive conosco tenha paciência ! Eu tô mudando ! Espero que pra melhor.
Hoje é um dia simbólico. Nosso Senhor está sepultado. Ressurge amanhã. Então pode-se pensar: por que Ele esperou 24 horas ? Pra quê ? Eu interpreto assim: Ele queria mostrar que não há transcendência sem morte, sem recolhimento, sem silêncio. A pressa não combina com transformação. A espera sim. Parece contraditório. Como a inércia, esta "espera" vai transformar algo? Não se pode crescer fora do útero. Não se gesta um novo homem em meio à agitação. Desperta tu que dormes !

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Reflexão da quinta-feira - Vencendo a apatia

Nesta Semana Santa não vejo sentido em falar de mim. Quero quebrar a casca do meu egoísmo. Quero escutar, aprender dos "antigos". Tenho lido muito textos dos "Padres do deserto", que foram ermitões, sábios do início do cristianismo. Muitos viviam retirados, em meditação e oração. Procuravam a sabedoria. Nisto, encontrei um texto interessante, que me coube como uma luva:

Perguntou-se a um ancião: «Por que acontece que eu me canso sempre? Porque ainda não conheces a meta», respondeu.

(...) "A doença fundamental é a preguiça. Ela é aquela estranha apatia, aquela passividade de todo nosso ser, que sempre nos puxa para baixo, e que constantemente nos persuade de que nenhuma mudança é possível e conseqüentemente nem desejável. " (...)

É, de fato, um cinismo profundamente arraigado que, a todo convite espiritual, responde: "Para quê?" E que desta forma faz de nossa vida um apavorante deserto espiritual. Esta preguiça é a raiz de todo pecado, porque ela envenena a energia espiritual na própria fonte. A conseqüência da preguiça é o desencorajamento (1). É o estado de acidia (2) - que todos os Padres espirituais encaram como o maior perigo para a alma. A acidia é a impossibilidade no homem de reconhecer qualquer coisa de bom ou positivo; tudo é levado para o negativismo e o pessimismo. É verdadeiramente um poder diabólico em nós, pois o diabo é basicamente um mentiroso. Ele mente para o homem a respeito de Deus e do mundo; ele enche a vida de escuridão e negação. O desencorajamento é o suicídio da alma, pois quando o homem está possuído por ele, torna-se absolutamente incapaz de ver a luz e desejá-la. O domínio (3). Por mais estranho que possa parecer, é precisamente a preguiça e o desencorajamento que enchem nossa vida do desejo de dominar. Ao viciar completamente nossa atitude diante da vida, e tornando-a vazia e desprovida de sentido, eles nos obrigam a procurar compensação em uma atitude radicalmente falsa para com os outros. Se minha vida não está orientada para Deus, se não busca os valores eternos, inevitavelmente ela se tornará egoísta e centrada em mim mesmo, o que quer dizer que todos os outros seres se tornarão meios a serviço da minha própria satisfação. Se Deus não é o Senhor e Mestre da minha vida, então eu me torno meu próprio senhor e mestre, e centro absoluto de meu universo, começo a avaliar tudo em função das minhas necessidades, das minhas idéias, dos meus desejos e dos meus julgamentos. Desta maneira, o espírito de dominação vicia minha relação com os outros em sua base; procuro submetê-los a mim. Ele não se exprime necessariamente na exigência efetiva de comandar ou de dominar os outros. Pode também tornar-se indiferença, desprezo, falta de interesse, de consideração e de respeito. É bem a preguiça e o desencorajamento, uma desta vez em relação aos outros; o que completa o suicídio espiritual com um assassínio espiritual. E para terminar, a vã loquacidade. De todos os seres criados, somente o homem foi dotado do dom da palavra. Todos os Padres vêem nisto o "selo" da imagem divina no homem, pois o próprio Deus se revelou como Verbo (Jo 1:1). Mas pelo próprio fato de ser o dom supremo, o dom da palavra é o supremo perigo. Pelo fato de ser a própria expressão do homem, sua forma de realização, ela é a ocasião de sua queda e de sua auto-destruição, de sua traição e de seu pecado. A palavra salva, e a palavra mata; a palavra inspira, e a palavra envenena. A palavra é instrumento de verdade, e a palavra é instrumento de mentira diabólica. Tendo um extremo poder positivo, ela tem, no entanto, um terrível poder negativo. Verdadeiramente, é um poder criativo, positivo ou negativo. Desviada de sua origem e seu objetivo divinos, a palavra se torna vã. Ela é de grande auxílio à preguiça, ao desencorajamento, o espírito de domínio, e transforma a vida em inferno. Ela se torna a própria potência do pecado. (...) E enfim, o coroamento e fruto de todas as virtudes, de todo crescimento e de todo esforço, é a caridade (amor), este amor que, como já dissemos, só pode ser dado por Deus, este dom que é o objetivo de todo esforço espiritual, de toda preparação e de toda ascese. Tudo isso se encontra resumido e reunido na súplica que conclui a oração de Quaresma e na qual pedimos para "ver minhas próprias faltas e não julgar a meu irmão." Pois, finalmente, há apenas um perigo: o do orgulho. O orgulho é a fonte do mal, e todo mal é orgulho. Contudo, não me basta ver minhas próprias faltas, pois até esta aparente virtude pode se transformar em orgulho. Os escritos espirituais estão cheios de advertências contra as formas sutis de pseudo-devoção que, na verdade, sob aparência de humildade e auto-acusação, pode conduzir a um orgulho verdadeiramente diabólico. Mas quando nós "vemos nossas faltas" e "não julgamos nossos irmãos," quando, em outras palavras, castidade, humildade, paciência e amor são uma coisa só em nós, então e somente então, o último inimigo - o orgulho - está destruído em nós. (...) " Fonte: www.ecclesia.com.br

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mudança de rota

Ontem à noite estava prestes a postar um texto. Não este aqui. Então a internet aqui de casa começou a apresentar problemas, testando a minha paciência. Pedi a ajuda do meu irmão, que diagnosticou: - Deve ser algum vírus. No frigir dos ovos creio que foi até providencial. Mais uma vez iria postar um texto mais intimista, mais uma auto-análise. Tá certo que eu até admita que este está se tornando um “cacoete literário” (se é que este termo existe).
Lembrei-me então que ontem já estávamos em plena Semana Santa. Lembrei-me de Nosso Senhor. Da sua Paixão. Comecei a refletir sobre algumas passagens do Evangelho, principalmente de São Marcos. Domingo estava lendo a Paixão, especificamente a passagem do momento em que Nosso Senhor é apresentado a Pilatos, no Pretório. – És tu o Rei dos judeus ? – Tu o dizes (responde Jesus). Pensei: - Quanta coragem ! Ele sabia que daquela conversa dependeria o seu destino. Seu livramento ou sua condenação. Quando interrogado ou acusado, faz jeito de somenos importância. Não que Nosso Senhor fosse indiferente ou metido a valentão. Ali Ele ensinava como enfrentar a adversidade: com dignidade, sem choramingar, sem praguejar ou lamentar o destino. E pensei: quanto tenho que aprender meu Deus !
Não é que tenhamos que ser resignados pura e simplesmente. Ou masoquistas. Não ! Mais do que com palavras, Jesus ensinou com a vida. Sua vida foram as páginas de um manual de como ser mais humano. Judas não entendeu... Ainda hoje muitos não entendem. – Mas como ? Como demonstrar fortaleza em tanta fragilidade ? No silêncio, na aniquilação ? Só uma coisa pode explicar tudo isso: o sentido de transcendência: “ Meu Reino não é deste mundo...”. “ Ocultei estas coisas dos sábios para revelá-las aos pequenos...”.
É importante partilharmos não só a alegria, mas as experiências dolorosas. Recordei-me de um texto do Abrigo Madrugada que fala da questão da culpa. Interessante como a culpa nos aprisiona. Então refleti e concluí que a culpa só nos aprisiona quando não aprendemos com o erro. Quando não o assumimos ou quando entramos em um processo de auto-punição. Lembrei-me de uma pregação de um Padre (Padre Antônio, em BH), que me marcou muito. Ele dizia assim: - Sabem qual a diferença entre Judas e Pedro ? Ambos traíram Jesus. Judas o vendeu, Pedro o negou. Ambos se arrependeram. A diferença é que Pedro se reergueu e tornou-se depois um grande apóstolo. Judas amargurou-se e cometeu suicídio. A diferença está aí: Judas não conseguiu vislumbrar o perdão. Principalmente: não SE perdoou.
Acredito que se perdoar talvez seja o maior desafio. No meu caso particularmente. O que ocorre é que quase sempre pensamos ser mais do que realmente somos. Ou menos. Este é o problema. Os monges antigos do início do cristianismo, entre os quais muitos eram ermitões, afirmavam que o auto-conhecimento é a chave da paz interior. Concordo. Mas como é difícil adquirir esta paz interior, o auto-conhecimento ! É por isso que os monges antigos passavam anos meditando no deserto para começar a sua pregação. Queria eu ter essa capacidade de silenciar, de olhar para dentro de mim. Ver como muitas vezes sou chato, ranzinza. Comigo e com os outros. Não no sentido de me culpar (que é inútil). Mas no de buscar melhorar. Dizia o abade Amun (monge no Egito): "Suporta todo homem assim como Deus te suporta”. Tenho procurado praticar isso. Principalmente com o meu pai. Sei que estou muito longe da meta, mas ainda pretendo chegar lá. Afinal ( acabei de pensar isto), ser bom com os outros também pode significar ser bom comigo. Me trazer mais paz. Ser bom não quer dizer “ser bonzinho”, o que na verdade é muito cômodo. Ser bom é defender o que se acredita. Mas com mansidão, sem elevar a voz. Motivado por um sentimento altruísta, não por vaidade. Senhor, ensina-me a suportar mais os outros e ser menos insuportável !

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sobre a estranheza ...

Hoje um velho amigo me falou uma coisa que me encucou. Vou ser direto: foi o Leandro. Sei que ele não gosta de ser citado. Me desculpe Leo, mas você vai ficar registrado. Ele me disse assim: - entrei no seu Blog, no do Moisés e no do Mendel. Tem umas coisas estranhas lá... - É, realmente. Estranhas. Então pensei: vou escrever sobre isto. E por onde começarei ? Pela estranheza, mais precisamente a palavra “estranho”, em sua etimologia – paro de escrever um instante para pesquisar - Onde eu estava mesmo ? Há ...“estranho” ! Vamos lá ! Definição do dicionário:
Estranho adj. (Lat. extraneus). 1. Contrário ao uso, ao normal ou ao esperado. 2. Incomum, insólito, extraordinário. 3. Exterior, estrangeiro, externo. 4. Desconhecido, misterioso. 5. Que não tem nenhuma relação como o assunto ou tema; alheio. 6. s.m. Indivíduo estrangeiro. 7. s.m. Pessoa que não conhecemos. 8. s.m. Aquilo que se estranha.
É... o Leo definiu bem o perfil dos nossos Blogs. E pensando bem, fiquei feliz ao ler o verbete. Quando criei o RARERIRORUY, queria exatamente que fosse “não usual”, “anormal” e “inesperado”. Enfim, estranho. Não no sentido de querer chocar ou aparecer. Nem mesmo há o desejo de causar boa impressão. Não ! Mas que pudesse trazer algo novo. Primeiramente para minha vida, já que há muito eu havia perdido o gosto pela escrita, estava descrente mesmo (culpa do Schopenhauer - o que não vem ao caso agora). Então ao conhecer o Blog do Moisés (primeiramente) e depois o do Mendel, pensei: - “Por que não” ? E bebi um bocado na fonte desses dois blogs. Do Moisés confesso que aprendi a fazer textos mais confessionais. Já quanto ao Mendel gostaria de escrever com toda aquela “loucura” e clima de realismo fantástico de alguns de seus textos, em forma de crônica.
O fato é que não faria sentido criar um texto, contar uma história ou inventar um caso se fizéssemos do jeito que a nossa vida costuma ser: "amarradinha". Ou seja, sem "subversão". Entenda bem: não estou propondo barricadas na rua ou coisa parecida, mas o direito de dar vazão à imaginação, ao tal de "eu-lírico" que tanto estudamos no 2º grau e no cursinho e que pensávamos que só existia para passar no vestibular. Não ! Esse tal de "eu-lírico" existe e representa um direito nosso (do cidadão comum), que simplesmente deseja escrever. Qualquer bobagem que seja !
Para mim não teria sentido me dar ao trabalho de sentar-me à frente do computador e escrever coisas lugar-comum (apesar de ter feito isso no 1º de Abril, intensionalmente). Falar de festinhas, badalação. Aqui pra mim é o "lugar da Náusea". Quem conhece a obra de Jean Paul Sartre sabe bem o que é isso. Escrever sobre a vida, sobre sua beleza ou sua feiúra em muitos momentos pode ser enauseante. Há dias em que você consegue tirar o melhor de você. Mas há dias também em que só o pior quer vir à tona.
Voltando à definição do "pai dos burros", vulgo dicionário: se estranho é aquilo que é incomum ou insólito, entendo que ser estranho seja até estimulante. Tudo isto apesar de achar que meu texto tem muito a melhorar, tanto em conteúdo quanto em linguagem. Mas tudo bem, o que vale é a brincadeira. Afinal pra mim é a estranheza que faz toda a beleza. Não é à toa que o Brasil tem as assim consideradas mulheres mais belas. Afinal, citando mais uma vez o dicionário: aquilo que é estranho é incomum e nisto reside a sua "beleza", mesmo que não seja a convencional.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

1 º de Abril

1º DE ABRIL - ENGANEI O BOBO, NA CASCA DO OVO, QUE CAIU, CAIU, CAIU PRIMEIRO DE ABRIL ! .... Tudo começou em 1564, quando Carlos IX, rei de França, por uma ordonnance de Roussillon, Dauphine, determinou que o ano começasse no dia primeiro de janeiro, no que foi seguido por outros países da Europa. É claro que, no início, a confusão foi geral, de vez que os meios de comunicação ainda eram inexistentes. Não havia rádio, televisão, nem mesmo o jornal, pois a invenção da imprensa, por Gutenberg, só aconteceu muitos anos depois. Antes de Carlos IX determinar que o dia primeiro de janeiro fosse o começo do ano, este tinha início no dia primeiro de abril, o que resultou ficar conhecido como o Dia da Mentira, por força das brincadeiras feitas com a intenção de provocar hilaridade. Surgiram, então, as brincadeiras (que os franceses denominavam de plaisanteries) em todo o mundo, como a da carta que se mandava por um portador destinada a outra pessoa, na qual se lia o seguinte: "Hoje é primeiro de abril. Mande este burro pra onde ele quiser ir". Seria um nunca acabar se fossem, aqui, relacionadas as brincadeiras referentes ao primeiro de abril. Até mesmo eram distribuídas cartas convidando amigos para assistirem ao enlace matrimonial de pessoas que nem sequer se conheciam, mencionando a igreja, o dia e a hora em que seria celebrado o suposto casamento. Vejamos alguns primeiros de abril pregados pela imprensa mundial, conforme relata a revista Isto é, de São Paulo, n11 1488, edição de 8 de abril de 1998: 1) "A África do Sul comprou Moçambique por US$ 10 bilhões. 0 anúncio do negócio fora feito na Organização das Nações Unidas pelo presidente sul-africano Nelson Mandela. Deu no jornal Star, de Johannesburgo; 2) A Rádio Medi, de Tânger, no Marrocos, noticiou que o Brasil não iria participar da Copa do Mundo porque o dinheiro da seleção seria usado na luta contra o incêndio em Roraima; 3) A minúscula república russa Djortostão declarou guerra ao Vaticano. Motivo: arrebatar o título de menor Estado da Europa. Para tanto, ele teria doado seis metros quadrados de seu território a uma república vizinha. Isso tudo de acordo com o jornal Moscou Time; 4) Diego Maradona, ex-capitão da seleção argentina de futebol, é o novo técnico da seleção do Vietnã. Deu nos principais jornais vietnamitas; 5) Ao deixar o Senegal, o presidente americano Bill Clinton seria acompanhado de uma comitiva formada pelos primeiros 50 senegaleses que fossem à embaixada para pedir visto de entrada nos EUA. Assim informou o jornal Le Soleil, do Senegal. Centenas de senegaleses acreditaram na mentira e correram para a embaixada americana." Noticiando o falecimento de Maurício Fruet, ex-prefeito de Curitiba e ex-deputado federal, a revista Isto é, São Paulo, nº 1510, edição de 9 de setembro de 1998, informou que ele "era considerado o parlamentar mais brincalhão e espirituoso que passara pela Câmara dos Deputados. Um exemplo: convocou uma falsa reunião de todo o secretariado do então governador coberto Requião no dia 1º de abril de 1990 (havia 15 dias que Requião tomara posse). Os Secretários, sem entender nada, passara m toda a madrugada no Palácio Iguaçu. De manhã, Fruet fez chegar a informação de que era um trote do Dia da, Mentira." Tudo faz crer que as brincadeiras, originárias das plaisanteries francesas, continuem sempre a existir, graças à eternidade das manifestações folclóricas no mundo inteiro.
FONTE: http://www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/cur_1abr.htm