Ontem à noite estava prestes a postar um texto. Não este aqui. Então a internet aqui de casa começou a apresentar problemas, testando a minha paciência. Pedi a ajuda do meu irmão, que diagnosticou: - Deve ser algum vírus. No frigir dos ovos creio que foi até providencial. Mais uma vez iria postar um texto mais intimista, mais uma auto-análise. Tá certo que eu até admita que este está se tornando um “cacoete literário” (se é que este termo existe).
Lembrei-me então que ontem já estávamos em plena Semana Santa. Lembrei-me de Nosso Senhor. Da sua Paixão. Comecei a refletir sobre algumas passagens do Evangelho, principalmente de São Marcos. Domingo estava lendo a Paixão, especificamente a passagem do momento em que Nosso Senhor é apresentado a Pilatos, no Pretório. – És tu o Rei dos judeus ? – Tu o dizes (responde Jesus). Pensei: - Quanta coragem ! Ele sabia que daquela conversa dependeria o seu destino. Seu livramento ou sua condenação. Quando interrogado ou acusado, faz jeito de somenos importância. Não que Nosso Senhor fosse indiferente ou metido a valentão. Ali Ele ensinava como enfrentar a adversidade: com dignidade, sem choramingar, sem praguejar ou lamentar o destino. E pensei: quanto tenho que aprender meu Deus !
Não é que tenhamos que ser resignados pura e simplesmente. Ou masoquistas. Não ! Mais do que com palavras, Jesus ensinou com a vida. Sua vida foram as páginas de um manual de como ser mais humano. Judas não entendeu... Ainda hoje muitos não entendem. – Mas como ? Como demonstrar fortaleza em tanta fragilidade ? No silêncio, na aniquilação ? Só uma coisa pode explicar tudo isso: o sentido de transcendência: “ Meu Reino não é deste mundo...”. “ Ocultei estas coisas dos sábios para revelá-las aos pequenos...”.
É importante partilharmos não só a alegria, mas as experiências dolorosas. Recordei-me de um texto do Abrigo Madrugada que fala da questão da culpa. Interessante como a culpa nos aprisiona. Então refleti e concluí que a culpa só nos aprisiona quando não aprendemos com o erro. Quando não o assumimos ou quando entramos em um processo de auto-punição. Lembrei-me de uma pregação de um Padre (Padre Antônio, em BH), que me marcou muito. Ele dizia assim: - Sabem qual a diferença entre Judas e Pedro ? Ambos traíram Jesus. Judas o vendeu, Pedro o negou. Ambos se arrependeram. A diferença é que Pedro se reergueu e tornou-se depois um grande apóstolo. Judas amargurou-se e cometeu suicídio. A diferença está aí: Judas não conseguiu vislumbrar o perdão. Principalmente: não SE perdoou.
Acredito que se perdoar talvez seja o maior desafio. No meu caso particularmente. O que ocorre é que quase sempre pensamos ser mais do que realmente somos. Ou menos. Este é o problema. Os monges antigos do início do cristianismo, entre os quais muitos eram ermitões, afirmavam que o auto-conhecimento é a chave da paz interior. Concordo. Mas como é difícil adquirir esta paz interior, o auto-conhecimento ! É por isso que os monges antigos passavam anos meditando no deserto para começar a sua pregação. Queria eu ter essa capacidade de silenciar, de olhar para dentro de mim. Ver como muitas vezes sou chato, ranzinza. Comigo e com os outros. Não no sentido de me culpar (que é inútil). Mas no de buscar melhorar. Dizia o abade Amun (monge no Egito): "Suporta todo homem assim como Deus te suporta”. Tenho procurado praticar isso. Principalmente com o meu pai. Sei que estou muito longe da meta, mas ainda pretendo chegar lá. Afinal ( acabei de pensar isto), ser bom com os outros também pode significar ser bom comigo. Me trazer mais paz. Ser bom não quer dizer “ser bonzinho”, o que na verdade é muito cômodo. Ser bom é defender o que se acredita. Mas com mansidão, sem elevar a voz. Motivado por um sentimento altruísta, não por vaidade. Senhor, ensina-me a suportar mais os outros e ser menos insuportável !
Nenhum comentário:
Postar um comentário