Perguntou-se a um ancião: «Por que acontece que eu me canso sempre? Porque ainda não conheces a meta», respondeu.
(...) "A doença fundamental é a preguiça. Ela é aquela estranha apatia, aquela passividade de todo nosso ser, que sempre nos puxa para baixo, e que constantemente nos persuade de que nenhuma mudança é possível e conseqüentemente nem desejável. " (...)
É, de fato, um cinismo profundamente arraigado que, a todo convite espiritual, responde: "Para quê?" E que desta forma faz de nossa vida um apavorante deserto espiritual. Esta preguiça é a raiz de todo pecado, porque ela envenena a energia espiritual na própria fonte. A conseqüência da preguiça é o desencorajamento (1). É o estado de acidia (2) - que todos os Padres espirituais encaram como o maior perigo para a alma. A acidia é a impossibilidade no homem de reconhecer qualquer coisa de bom ou positivo; tudo é levado para o negativismo e o pessimismo. É verdadeiramente um poder diabólico em nós, pois o diabo é basicamente um mentiroso. Ele mente para o homem a respeito de Deus e do mundo; ele enche a vida de escuridão e negação. O desencorajamento é o suicídio da alma, pois quando o homem está possuído por ele, torna-se absolutamente incapaz de ver a luz e desejá-la. O domínio (3). Por mais estranho que possa parecer, é precisamente a preguiça e o desencorajamento que enchem nossa vida do desejo de dominar. Ao viciar completamente nossa atitude diante da vida, e tornando-a vazia e desprovida de sentido, eles nos obrigam a procurar compensação em uma atitude radicalmente falsa para com os outros. Se minha vida não está orientada para Deus, se não busca os valores eternos, inevitavelmente ela se tornará egoísta e centrada em mim mesmo, o que quer dizer que todos os outros seres se tornarão meios a serviço da minha própria satisfação. Se Deus não é o Senhor e Mestre da minha vida, então eu me torno meu próprio senhor e mestre, e centro absoluto de meu universo, começo a avaliar tudo em função das minhas necessidades, das minhas idéias, dos meus desejos e dos meus julgamentos. Desta maneira, o espírito de dominação vicia minha relação com os outros em sua base; procuro submetê-los a mim. Ele não se exprime necessariamente na exigência efetiva de comandar ou de dominar os outros. Pode também tornar-se indiferença, desprezo, falta de interesse, de consideração e de respeito. É bem a preguiça e o desencorajamento, uma desta vez em relação aos outros; o que completa o suicídio espiritual com um assassínio espiritual. E para terminar, a vã loquacidade. De todos os seres criados, somente o homem foi dotado do dom da palavra. Todos os Padres vêem nisto o "selo" da imagem divina no homem, pois o próprio Deus se revelou como Verbo (Jo 1:1). Mas pelo próprio fato de ser o dom supremo, o dom da palavra é o supremo perigo. Pelo fato de ser a própria expressão do homem, sua forma de realização, ela é a ocasião de sua queda e de sua auto-destruição, de sua traição e de seu pecado. A palavra salva, e a palavra mata; a palavra inspira, e a palavra envenena. A palavra é instrumento de verdade, e a palavra é instrumento de mentira diabólica. Tendo um extremo poder positivo, ela tem, no entanto, um terrível poder negativo. Verdadeiramente, é um poder criativo, positivo ou negativo. Desviada de sua origem e seu objetivo divinos, a palavra se torna vã. Ela é de grande auxílio à preguiça, ao desencorajamento, o espírito de domínio, e transforma a vida em inferno. Ela se torna a própria potência do pecado. (...) E enfim, o coroamento e fruto de todas as virtudes, de todo crescimento e de todo esforço, é a caridade (amor), este amor que, como já dissemos, só pode ser dado por Deus, este dom que é o objetivo de todo esforço espiritual, de toda preparação e de toda ascese. Tudo isso se encontra resumido e reunido na súplica que conclui a oração de Quaresma e na qual pedimos para "ver minhas próprias faltas e não julgar a meu irmão." Pois, finalmente, há apenas um perigo: o do orgulho. O orgulho é a fonte do mal, e todo mal é orgulho. Contudo, não me basta ver minhas próprias faltas, pois até esta aparente virtude pode se transformar em orgulho. Os escritos espirituais estão cheios de advertências contra as formas sutis de pseudo-devoção que, na verdade, sob aparência de humildade e auto-acusação, pode conduzir a um orgulho verdadeiramente diabólico. Mas quando nós "vemos nossas faltas" e "não julgamos nossos irmãos," quando, em outras palavras, castidade, humildade, paciência e amor são uma coisa só em nós, então e somente então, o último inimigo - o orgulho - está destruído em nós. (...) " Fonte: www.ecclesia.com.br
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