Meu pai no caminho de casa: - Você precisa definir seu futuro, Mr. Anderson... (não é bem assim, mas chega perto). E o agente Smith ataca novamente ! tcharam ! ... - Vamos conversar amistosamente ... - ele diz.
- Tá bom ! Conversa fiada de novo, pai ? (pergunto eu) . - Não preciso de salvador, muito menos com esta postura nazista (foi assim mesmo que eu disse). Com esta sua postura de messias, eu não vou dialogar nunca (disse pro meu pai). - Desça do seu Monte Olimpo e venha conversar aqui em baixo, Senhor “o segredo da vida é ...”. O segredo da vida é não dar pitaco na vida dos outros (digo pra ele). Então ele vem com aquele discurso do “caminho mais fácil”: - Repare bem, meu filho: o filho de Dr. Fulano seguiu a medicina, se Dr. Fulano fosse comerciante, poderia ensinar ao filho comerciar, mas como é médico, seu filho seguiu o caminho natural. Aí eu digo: - Isto quer dizer que eu tenho que me tornar contador ... O senhor tá assistindo muita novela... o sistema de castas já acabou por lá e por aqui nunca existiu. Nesse momento me sentia um filhote de pato, que há sei lá quantos milhões de estações sempre migram no inverno...
Mas veja bem – diz o meu pai – se já existe um caminho certo, pra que se aventurar ? Eu digo: para sentir que eu tô vivo, caramba ! Pra fazer do meu jeito ! Então digo: - se homens como Edson, da Vinci e Santos Dumont pensassem como o Senhor, não teríamos computador, avião e medicina. Pra que se enterrar num laboratório horas a fio ? Afinal, herdaram certa quantia, ninguém tava nem aí pro trabalho deles ... Poderiam prosseguir com sua vida bem “normalzinha”. Não ler “livros perigosos”, comer comidas gordurosas, fazer viagens perigosas. Teriam uma vida mais pacata, sem questionamentos, se alimentando de alimentos diet e sem gorduras trans e morrer com um aspecto bem saudável para que todos disessem em seu velório: - Parece que ele tá dormindo ! ... Ah, vai te catar ! Vou seguir outra profissão, nem que passe fome. Não nasci com chip, não vou seguir a programação do Agente Smith. Sinto muito.
Ponte que caiu ! Imagina só: você já é obrigado a conviver 8 horas com seu pai num escritório, chega em casa, o cara ao invés de falar de futebol, novela, o raio que o parta, fala do quê ? Trabalho ! E além disso propõe: - Por que você não dá uma estudadinha naquela apostila ? Aí eu ironizo: - Mas claro! Eu saí de casa antes das sete da manhã, retorno 12 horas depois , e o que eu quereria fazer ? Jogar bola ? Assitir um filme ? Não... dar uma estudada num assunto que me desinteressa muito, claro ! Só para satisfazê-lo meesxxstre !
Vai ser sem-noção assim lá na Terra do Nunca, meu São Capitão Gancho ! . Só pra dá um exemplo: ele é daqueles que você convida pra comer uma pizza fora e ele emenda: - Pra quê ? Tem comida em casa ! Deve tá com o chip estragado, só pode. Seguindo esta linha de raciocínio, pra que dar flores à namorada ? Vão murchar... Pra quê viajar, se você pode conhecer tudo nos livros (juro que ele já falou isto) – como se fosse a mesma coisa ler sobre a Torre Eiffel e poder tocá-la. Não vou nem discutir...
Se o Jô fizesse uma entrevista com o workaholic do meu pai sairia mais ou menos isto:
- Qual seu livro predileto?
-Qualquer um de auto-ajuda, expansão do potencial pessoal e coisa similar.
- E nas artes plásticas, qual o seu quadro predileto ?
- O quadro de avisos !?
- Uma viagem ?
- Um dia eu tomei três chops ( o que é um absurdo, porque eu nunca passo de um, pois podem pensar que sou alcoólatra) e foi uma viagem...
- Qual o seu hobby ?
- Trabalhar. Eu descanso carregando lenha ! (ele costuma falar isto também).
Como argumentar com uma pessoa assim que se divertir não é pecado, que o ser humano precisa de mais do que um teto, comida e plano de saúde ? Mas paciência. Ainda faço ele tomar aquela pílula vermelha ....
Parece que seu pai vive umas 6 décadas atrasado... Pelo menos!...
ResponderExcluirPessoas como seu pai existem aos montes ainda...
ResponderExcluirsei não, Mendel...me parece que ainda o mundo hoje é como o pai dele
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