sábado, 11 de abril de 2009

Espera

Durante estes dias quero continuar retirado de mim mesmo. - Afinal, o que são os meus sofrimentos, as minhas "questões existenciais" perto da reflexão da Paixão do Senhor ? (penso eu). Pobre "homenzinho", é o que sou. Nós sofremos para compreender a existência, esquadrinhá-la com a nossa inteligência limitada. E nos deparamos com esta figura: Jesus. O total abandono, o desprendimento. - "És tu o Rei dos judeus" ? - "Tu o dizes....". Serenidade diante da adversidade. Como alcançar tal coisa, se este "homenzinho" costuma perder a paz à menor contrariedade ?
Entenda-se: retirar-se de si mesmo não quer dizer alienar-se. É deixar de olhar tanto para dentro e procurar olhar mais "em torno". Senão, como Narciso, pode-se ficar enfeitiçado pela própria figura. Acho que o grande problema é tomar o mundo "a partir de si". Mas pode-se questionar: - "Há outra forma de se vislumbrar o mundo ?". Sim: - "De cima". Mas quem já esteve lá, a não ser o que desceu de lá ?
Ei, mestre ! Não me deixe sozinho não ! Já tô de saco cheio de mim mesmo. Sou o meu pior conselheiro. Como saber se estou certo, se tudo o que se escuta são ecos do seu próprio pensamento ? Pena que até hoje o Senhor não foi compreendido. O desejo de domínio é que estraga tudo. A ansiedade. O desprendimento liberta. Aí vem alguém e diz: - Não se pode viver sem trabalhar... (como se se despojar fosse sinônimo de vadiagem, alienação). Os pensadores cristãos costumam dizer que até um mendigo pode ser mais apegado que o maior dos milionários. Apego não é possuir muitas coisas. É amar o Ter mais do que o Ser. Mesmo que seja o único par de sapatos. A gente vê isso por aí. Até na "literatura da moda" contemporânea: o personagem Smiegel, de "Senhor dos Anéis", que para possuir o "my precious", se "enterra" em uma caverna. Deixa de viver para si para viver para o objeto o precioso anel.
O mundo hoje tem muito disso. Escravos do poder, da beleza, da auto-imagem, da opinião alheia... Sei que é estupidez, mas o sistema é aprisionante. Então inventam as "fórmulas": para o sucesso, pra ser feliz, pra "agarrar um namorado ou namorada". E o alvo sempre está no externo. No aquém. É por isto que poucos compreendem bem o cristianismo. Não atentam para a mensagem. "Amai ao próximo como a ti mesmo"... se não me amar, nunca poderei amar outrem.
E a ciranda da vaidade nos diz hoje: - "Nunca estejam satisfeitos, queiram sempre mais..." Não tem botox que chegue. Enquanto eu não me aceitar, como posso amar o outro ? Se aceitar não quer dizer " sou assim mesmo e pronto e quem quiser que se ajeite". Quer dizer: este sou eu, com suas misérias e jardins também. Perfeição só em anúncio de xampu e creme dental. Quem convive conosco tenha paciência ! Eu tô mudando ! Espero que pra melhor.
Hoje é um dia simbólico. Nosso Senhor está sepultado. Ressurge amanhã. Então pode-se pensar: por que Ele esperou 24 horas ? Pra quê ? Eu interpreto assim: Ele queria mostrar que não há transcendência sem morte, sem recolhimento, sem silêncio. A pressa não combina com transformação. A espera sim. Parece contraditório. Como a inércia, esta "espera" vai transformar algo? Não se pode crescer fora do útero. Não se gesta um novo homem em meio à agitação. Desperta tu que dormes !

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